A democracia é um péssimo sistema de governo. Mas, o pior é que não existe outro melhor. Neste modelo de governo os candidatos escolhidos pelo voto não passam por nenhum protocolo de seleção ou qualquer filtro antes de serem empossados nos cargos públicos.
A sua principal característica ou valor – a participação direta das pessoas nas escolhas pelo voto – parece ser também seu maior defeito. Pessoas despreparadas, sem nenhuma aptidão para administração pública, se elegem com discursos empolados e ocos, despertando a paixão dos eleitores.
Em eterna briga ideológica o povo ingenuamente escolhe seu lado, endeusando políticos não pelas qualidades reais que tenham, mas sim pelas emoções que despertam.
Um prefeito, na verdade, é uma pessoa que contratamos para administrar nossa cidade por um período determinado, mediante uma remuneração combinada. Interessante é que o currículo deste escolhido pelo voto provavelmente não despertaria o menor interesse de um recrutador para um cargo de mando em um negócio privado. Veja que contrassenso: o cidadão escolhido para administrar uma cidade pode não ter qualidades suficientes para gerir uma empresa.
Além da má qualidade dos governantes, nas Câmaras de Vereadores, nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional os políticos contrários votam contra projetos interessantes somente porque foram propostos pelos adversários. A busca do bem comum é substituída pelo desejo de derrotar o adversário a qualquer custo.
A prosperidade da sociedade seria infinitamente maior se as pessoas torcessem por sua cidade acolhendo as boas ideias independentemente da origem delas. O antagonismo que existe entre nós está crescendo, principalmente neste governo do Lula e do anterior do Bolsonaro. A turma do PT e seus coligados ficaram quatro anos boicotando projetos do PL e de seus aliados, sem admitir o obvio que eles tinham um bom ministro da Fazenda, o economista Paulo Guedes. Agora estão recebendo o troco com a rejeição de algumas boas propostas do Fernando Haddad.
O que as pessoas não se dão conta é que no afã de derrotar nossos adversários estamos destruindo a propriedade que temos em comum – os bens públicos.
No Brasil progrediu nas últimas décadas uma fratura da sociedade entre direita e esquerda que continua impedindo um convívio minimamente civilizado. Mesmo que os relacionamentos políticos não sejam amistosos, ao menos deveriam ser educados e civilizados.
Entretanto, a despeito das intempéries, a democracia vem resistindo. É verdade que passamos por um susto nesse começo de governo. Na minha opinião ficamos muito perto do rompimento do processo democrático. Mas, importa que estamos superando essa fase e que os conspiradores começam a ser julgados e vão pagar pelos crimes cometidos. As punições duras, consideradas exageradas por muitos, que têm sido aplicadas pelo STF servirão para desestimular novas tentativas de instalar a ditadura no Brasil.
Renato de Paiva Pereira.