A teoria evolucionista de Charles Darwin sugere uma origem comum para todas as espécies, isto é, todos os seres vivos teriam evoluído de uma única forma de vida. Piolhos, lesmas e serpentes progrediram do mesmo jeito que os soberbos autodenominados Sapiens, tão pretenciosos que costumam negar a origem comum com outros viventes.
Antes de a evolução os tornar “sábios” dividiam com os outros a irracionalidade geral e a vida era mais simples. Desfrutavam cada momento despreocupados do futuro, livres de traumas e distantes das angústias. Também, viviam em razoável calma, dormindo quando queriam, comendo o que a natureza dava e perambulando sem destino se isto lhes aprazia.
Mas um dia, neste corpo orgânico dos humanoides, começou a se desenvolver uma mente, chamada por muitos de espírito ou alma. Assim, o corpo ou a máquina humana (hardware) conquistou um cérebro ou “sistema” que podemos chamar de “software”.
Foi aí que a coisa começou a complicar. Esta “inteligência recém adquirida” inventou de fazer questionamentos filosóficos até então ausentes das cabeças destes seres em evolução. Mas, antes das indagações, os humanos aproveitando a vantagem adquirida começaram a dominar o mundo, sobrepondo-se a todos os outros bichos.
Hoje sabemos que esta conquista não foi uma boa ideia, pois vencendo todos os predadores e aprendendo a produzir a própria alimentação, reproduziram-se de tal forma que alcançaram o número espantoso de 8 bilhões de indivíduos, custosamente mantidos com os recursos limitados da terra.
Mas voltemos ao corpo e à mente. Enquanto o hardware não dispunha de software – o corpo não tinha alma – este primata mutante nem se percebia como indivíduo, assim como um veado não sabe que é um veado e a onça ignora a própria existência.
Todavia, a evolução, selecionando a mudança genética que deu autoconsciência (ou pensamento) ao Homo Sapiens, trouxe a desdita de obrigá-lo a lidar com a própria finitude, que antes desconhecia.
Este software humano que um dia, segundo dizem, será substituído pela Inteligência Artificial (IA), levou a indagações sobre sua origem, destino e principalmente, qual o objetivo da vida.
E como não achava respostas para as próprias perguntas, ficou atormentado, pois na sua auto presumida nobreza, não se via dividindo a origem, objetivos e destino com um simples tatu.
Assim, para acalmarem a si mesmos e aos outros, alguns “iluminados” propuseram-se uma origem grandiosa, diferente da de todos os outros animais.
A configuração do software fez estes macacos pelados “panhá gosto” (como dizemos aqui em Cuiabá) pelas histórias que contavam e ouviam nas noites frias, ao pé da fogueira. Criaram, então, fantásticos relatos explicando a origem dos animais “inferiores”, separada da própria criação. A si mesmos atribuíram a imortalidade, se não do hardware, pelo menos do software: o corpo pode morrer, mas a alma é eterna.
Essas histórias contadas e recontadas transformaram-se em mitos, que acabaram dando identidade aos grupos humanos. Então se uniram em torno deles, formando as centenas de religiões espalhadas pelo mundo.
Alguns – os Sapiens dos Sapiens ou os sabidos dos sabidos – no lugar da religião inventaram a filosofia, buscando nela explicações para os insondáveis mistérios que a mente humana comum não consegue entender.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor