Os dois personagens desta história são funcionários públicos,, mas não se conhecem.
Ambos levam uma vida razoável. Os filhos ainda pequenos frequentam escolas particulares, tem aulas de natação, música etc. No final da semana descansam no clube, aos sábados saem com alguns amigos para comer pizza e tomar vinho.
Não estão satisfeitos, entretanto. Um deles tem reclamado com a mulher que os chefes são muito chatos e que tem sido preterido nas promoções. O outro não vê boas perspectivas na carreira. Já está no topo dela, daqui pra frente só escolha política. Como ele não é muito bom em relacionamentos o progresso fica difícil.
Há semanas ambos têm comentado em casa notícias que receberam de amigos falando do sucesso de pessoas que foram tentar a sorte em regiões novas do país.
Um deles está entusiasmado com uma pequena cidade de Mato Grosso que está em franco crescimento.
O outro vive falando de um garimpo de diamante no sul do Amazonas.
“Por que você não vai ver?” Diz uma e outra esposa, quase ao mesmo tempo.
Decidiram conhecer.
Cada um tinha casa, carros e uma pequena poupança. Venderam a casa, um carro e juntando com a poupança botaram o pé na estrada.
Cinco anos trabalharam com grande dedicação. No fim desse tempo um deles volta para o mesmo bairro na busca de novo emprego. A cidade que parecia promissora começou a regredir com a perda da importância econômica de sua principal atividade: exploração de madeira.
O segundo personagem acertou em cheio. A empresa que criou prosperou, os filhos estão na faculdade e ele mudou para uma cidade melhor, próxima de suas atividades.
No antigo emprego seus amigos comentam que sempre souberam que ele era um empreendedor nato. Algumas esposas de seus ex-colegas cobram de seus maridos atitudes semelhantes, ressaltando a coragem do novo rico.
Entre os amigos do que fracassou a história é diferente. “Você viu no que deu a irresponsabilidade do fulano, perdeu a casa, o carro e voltou com o rabo entre as pernas”.
São histórias comuns, basta trocar os nomes e a origem.
O que motivou o sucesso de um e o fracasso de outro? Ambos prepararam-se para a nova atividade, a dedicação foi igual conforme narra a história também a disposição para enfrentar lugares novos e distantes os dois mostraram. Considerando que ambos tinham algum talento para os negócios, resta somente um item que fez toda a diferença: Sorte, que alguns chamam de destino, fado ou sina, mas que nada mais é que a aleatoriedade das coisas, ou a dependência de fatores incertos, sujeitos ao acaso.
Na nossa história há um empreendedor e um aventureiro, conforme conclusões de seus antigos companheiros após o resultado da empreitada
As pessoas, desprezando as variáveis de cada situação, analisam as qualidades ou os defeitos dos envolvidos, baseando-se simplesmente no resultado do empreendimento. Não deveria ser assim, porque há medíocres empresários que ficaram ricos e talentosos empreendedores que não tiveram sucesso financeiro.
Aventureiro é o empreendedor que não deu certo.
Empreendedor é o aventureiro que teve sucesso.
Renato de Paiva Pereira – adaptado do meu livro “Virando Patrão” (Editora Juruá-Curitiba-Pr)