Opinião

Dia da Astronomia

O CÉU E AS EPISTEMOLOGIAS DO SUL

No calendário comemorativo brasileiro, 2 de Dezembro é reservado ao ‘Dia da Astronomia’. Para muitos, uma data pouco lembrada e com significado desconhecido. Selecionada em 1978 durante uma Conferência da Sociedade Astronômica do Recife em menção à data de nascimento de Dom Pedro II. O imperador, astrônomo amador e patrono da astronomia brasileira, contribuiu com dedicação, estudos e investimentos à ciência do céu, interesse que adquiriu de seu pai, D. Pedro I, responsável pela construção do Imperial Observatório, hoje Observatório Nacional, localizado na cidade do Rio de Janeiro.

O fascínio de olhar para o céu vem de longas datas. Bem antes de Hiparco, Ptolomeu, Nicolau Copérnico, Tycho Brahe, Galileu Galilei. As pinturas rupestres, contadas por desenhos sobre rochas e paredões são testemunhas longevas. Mato Grosso e outros estados são detentores de verdadeiros ‘arquivos’ nacionais a céu aberto, em cavernas ou superfícies e abrigos rochosos, depositários de fontes primárias que registram cotidianos pré-históricos. Nesses ‘arquivos’, a presença de representações do céu e seus astros é amiudamente repetida.

Mas, a veneração pelo firmamento e pelos objetos celestiais também se faz presente nos dias atuais em narrativas cosmológicas indígenas, cada uma delas com suas respectivas leituras. Enquanto instrumento propiciador de um pensar decolonial e como meio de reconhecimento de epistemologias invisibilizadas pela ciência moderna, o Brasil precisa conhecer mais a arte de interpretar o céu dos povos indígenas. Observar o céu com seus olhos.

Sob as perspectivas de teóricos da decolonialidade, embasados no pensamento crítico, urge a adoção de posturas emancipadoras sobre Astronomia, História, Geografia e Literatura procedentes dos povos indígenas que possibilitam trazer à tona práticas e saberes de diferentes grupos sociais que precisam estar nos espaços escolares do Ensino Fundamental e Médio. Os livros infantojuvenis ‘Subida pro céu: mito dos índios Bororo’, de Ciça Fittipaldi (1986), ‘O céu dos índios Tembé’, do Planetário do Pará, vencedor do prêmio Jabuti, categoria Melhor Livro Didático (2000), ‘O segredo da chuva’, de Daniel Munduruku (2003), ‘A astronomia indígena’, de Luiz Galdino (2011), ‘Os meninos que viraram estrelas’, de Sávia Dumont (2011), ‘O céu dos índios de Dourados – Mato Grosso do Sul’, de Germano Bruno Afonso (2012), dentre tantos outros, sem exceção, ilustram caminhos teórico-conceituais propostos para um pensar do Sul.

As formas de saber indígena estão inseridas nas “epistemologias do sul”, a enriquecer o conhecimento propiciado por um pensamento que consente o desvelar dos saberes silenciados pelo cânone da modernidade. Faz-se necessário, nos dizeres de Boaventura de Souza Santos e Maria Paula Meneses, uma epistemologia que permita abordagens que “valorizam os saberes que resistiram com êxito e as reflexões que estes têm produzido e investigam as condições de um diálogo horizontal entre conhecimentos”. Isso porque é urgente assumir um percurso que se diferencie da visão da colonialidade do poder e legitime escritas latino-americanas e que vêm conquistando lugares merecidos.

 

Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, escritora e filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.

 

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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