Em junho/22 escrevi este texto na mídia mato-grossense: “O Lula anunciou o esboço de seu plano de governo a ser implantado, se porventura, ganhar as eleições.
Alguns detalhes chamaram a atenção da mídia, que os noticiaram com destaque. Entre eles está a contestação da reforma trabalhista que foi aprovada no Congresso, sob o governo reformista do Michel Temer.
A justiça trabalhista, antes da reforma, estava muito partidarizada. Sem nenhuma consequência punitiva, trabalhadores desonestos e seus sindicatos, estimulados e ajudados por advogados gananciosos, reclamavam na justiça os mais absurdos direitos, sabendo que se perdessem, como quase sempre perdiam, restavam-lhes o sabor de ter incomodado o ex patrão, além de ter-lhe causado prejuízos financeiros para se defender.
A reforma trabalhista melhorou muito esta condição. Não que agora os trabalhadores estejam desprotegidos pela justiça. Os mesmos rigorosos juízes trabalhistas continuam julgando as causas, só que há despesas judiciais a pagar pelos trabalhadores, quando a demanda fracassa, O que é normal em outras áreas do direito.
Mas o Lula com seu plano de governo vai além. Ele quer furar o teto de gastos. Aquele mecanismo, também pensado e aprovado no governo Temer que impede os governantes de gastar sem limite, passando para o próximo as despesas mirabolantes não pagas. O próximo mandatário, contando também com a possibilidade de não ter limite de gastos, vai passando a conta pra frente, empurrando assim uma enorme dívida, que se torna impagável. Impagável e insuportável porque ela é alimentada por juros, com seu voraz apetite.
Cita ainda a valorização da imprensa e segurança de seus profissionais. Mas quem conhece o Lula sabe que ele está falando só para agradar a mídia e eleitores desaviados. Ele sempre sonhou em regular o direito de livre expressão, eufemismo para botar um cabresto nos jornais, rádios e Tvs.”
Após a vitória o mercado vinha reagindo bem, pois o Lula estava de férias curtindo a lua de mel com sua nova esposa longe dos holofotes e microfones. Sem declarações dele neste período a bolsa de valores subiu e o dólar chegou ao valor de R$ 5,04 que não atingia há muito tempo.
Mas a lua de mel acabou (a verdadeira e a metafórica) e o presidente eleito recomeçou seus discursos nessa fase de transição de governo como se ainda fosse candidato. Aí o estrago foi geral: a bolsa caiu mais de 3% o dólar foi a R$ 5,40.
Pudera, ele enfatizou na fala a desnecessidade de conter os gastos públicos, como se fosse possível acabar com a pobreza do país, sacando a descoberto no Tesouro Nacional para dar aumentos no salário mínimo e ajudas irresponsáveis.
O equilíbrio fiscal (não gastar mais do que arrecada) é um dos fundamentos que mantém a inflação sob controle. Aliás, ela penaliza a todos, mas afeta sobremaneira os mais pobres.
Em reunião na última quinta (10/11) o Lula vacilou. Não havia a menor necessidade de alardear o descompromisso (provavelmente retórico para agradar sua turma) com a contenção de gastos. Parece que a idade ao contrário de brindá-lo com a indispensável prudência, aumentou sua conhecida destemperança verbal.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor