Opinião

Se não por mim

Subi a rua desenhando a crônica e mapeando as orquídeas penduradas nas árvores que começam a florir.

Esses sinais multicores iniciaram o movimento de renascimento da fênix. “Se elas podem, por que eu não?” Parece fácil falar, mas daí a execução da tarefa há um longo caminho a ser percorrido.

Tomei uma invertida no meio do ano e desabei. Minha redoma protetora ficou mais estilhaçada que as paredes de vidros metralhados da torre do Nakatomi Plaza no filme Duro de Matar. Como o John McClane, de Bruce Willis, não conseguia me mover sem sangrar. No meu caso, não os pés, mas o coração.

Sem a redoma, fiquei sincera. O que é péssimo esses tempos em que a arte de ser falsa fingida está em alta. Para não espanar geral me recolhi e auto dediquei à minha persona a acuidade da sinceridade intrínseca.

O universo resolveu colaborar com a desconstrução desconfigurando o hub do Sem Fim de forma, até o momento, irreversível. Está tudo lá, mas nem a busca funciona. Um retrato cruel da própria autora. No caso, euzinha.  Não sucumbi às adversidades. Já tentei vários restarts. Cortei os cabelos, mudei o percurso…

Mas é a vida que manda e foi ela que me derrubou, por exemplo, no dia do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Festa linda na Cidade das Artes que assisti pelo Canal Brasil. Na véspera fui pega no contrapé de uma gripe alérgica turbinada pelas obras do sétimo e do quarto andares.  

Ensanduichada pela falta de civilidade das empresas contratadas para botarem abaixo os dois imóveis, o que me resta é apelar para quem não está nem aí diante dos problemas dos outros. Barulho, makita, poeira, sujeira, etc.

O que, como já disse, também não é suficiente para mover a inabalável vontade que sinto de virar esse jogo. A reação tem que acontecer, respeitados os sinais.

Pois foi assim, ainda me recuperando, que cheguei na praia em Copacabana para registrar a ressaca que chupou a areia da ponta o Forte de Copacabana.

Estava sentada num banco gravando o mar entre Drummond e Dorival Caymmi quando a meus pés a PM cercou quatro “elementos” e começa a revista-los. Um monte de gente vazou de perto. Não me movi. Não era o caso. Os rapazes tinham apenas duas bolsas pequenas, essas que estão na moda. Fiquei ali com a câmera na mão.

O que me fez sair da inércia foi ver o quadriciclo em que dois policiais vieram pela água se movendo com a força das ondas na subida da maré. Achei por bem avisar a um deles e cair fora. Dura a gente vê a toda hora, só não queria testemunhar a navegada do veículo militar. Saí batida e cortei pra Ponta chegando na bateria final do Arpoador Classic 2022.

Aí, a maré virou a meu favor. Na água, disputando com Leandro Bastos, o locutor anunciou Pikachu. Cria do Pavão/Pavãozinho/Cantagalo, o PPG, o surfista é um dos fenômenos da geração Arpoador.  Há alguns anos fiz umas fotos de um garoto voando no pedaço. É o mesmo!

Já contei numa crônica do Sem Fim que fotografar ondas e surfistas é um ótimo treino de meio de ano. Afina o foco e a mira para os desfiles da Sapucaí, né? Desprezei a poderosa para brincar com o zoom da câmera compacta.

Foi dela que saíram poucos registros do Arpoador Classic 2022, onde a janela da minha alma se abriu pra mostrar o talento de Anderson Pikachu e me juntar, como posso, a torcida do vizinho que, aos 22 anos, busca seu espaço entre os feras do surf profissional brasileiro.  

Quando fui marcar o perfil @pikachu_anderson97 no Instagram estava lá a campanha em busca de apoiadores e de um patrocinador master. Quer saber, leitor? Foi por isso que essa crônica nasceu. Pra juntar esforços na busca de recursos pro surfista. Que não levou essa, mas levará muitas com seu talento.

A vida é assim, se não por mim, por quem tenta fazer da sua própria história, um SEM FIM…

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Arpoador” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com

 

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do