O governo de São Paulo informou nesta quinta-feira, 4, que duas grávidas, cinco crianças e cinco adolescentes foram diagnosticados com a varíola dos macacos (monkeypox) no Estado e estão em isolamento. Embora o vírus tenha se espalhado mais rapidamente entre homens gays e bissexuais, especialistas alertam que a contaminação pode migrar para outros grupos.
"Pode acontecer com todo mundo", disse o secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, David Uip, durante o anúncio de um plano de enfrentamento da doença em São Paulo. Uip ponderou que, até agora, há a prevalência da doença em determinados grupos, como homens que fazem sexo com outros homens, mas essa situação é "transitória". "Daqui a pouco, todas as pessoas vão estar passíveis de contaminação."
Apesar de a letalidade da doença ser considerada baixa, de um modo geral, e a maioria dos casos não precisar de internação, o risco é maior para grávidas, crianças com menos de 8 anos de idade e pessoas imunodeprimidas, como pacientes com câncer e transplantados. O Brasil registrou, na semana passada, a primeira morte pela doença, de um paciente imunossuprimido. O avanço da doença expõe a necessidade de providências, como a preparação da rede de assistência, cooperação com municípios e capacitação de profissionais.
As medidas anunciadas pelo governo paulista incluem deixar 93 hospitais e maternidades de retaguarda, ampliar a testagem e vigilância genômica nas redes pública e privada e criar um protocolo especial de atenção às gestantes que se infectarem. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, esse hospitais serão referência e receberão os casos mais graves com necessidade de internação e leitos de isolamento ou Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
O Estado de São Paulo já confirmou 1.298 casos da doença, a maior parte no município de São Paulo – atualmente duas pessoas estão internadas. No Hospital Emílio Ribas, referência para doenças infecciosas, chegam diariamente 30 casos suspeitos da doença.
No caso das grávidas diagnosticadas com o vírus, haverá acompanhamento e indicação para o parto em uma unidade de saúde de alto risco. A recomendação geral para o parto, no caso das gestantes infectadas, será a cesariana, para evitar a transmissão ao bebê. Em casos em que não houver lesões na região perianal, pode ser avaliada a possibilidade de parto vaginal.
O governo paulista também orientou que puérperas (mulheres que acabaram de dar à luz) infectadas suspendam a amamentação por 14 dias por precaução. Ainda não está claro se a transmissão pode ocorrer por meio do leite materno. O contato da mãe infectada com o recém-nascido também deve ser reduzido.
Nesta semana, o Ministério da Saúde orientou que gestantes, puérperas e lactantes usem máscaras em lugares fechados e façam sexo com preservativos como forma de se prevenir da doença.
Em relação às crianças infectadas que estão hoje em isolamento, o governo paulista informou que o contágio possivelmente ocorreu após contatos próximos em festas com pessoas contaminadas. O secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, lembrou que a contaminação pode ocorrer por meio de beijos e abraços e que, portanto, esse tipo de contato deve ser evitado em caso de suspeita da doença.
Na capital paulista, os registros da doença em crianças levaram a Prefeitura a promover uma capacitação com mais de 3 mil profissionais da Educação, como professores e diretores, para que saibam identificar as lesões e encaminhar os casos suspeitos a unidades básicas de saúde. O curso foi disponibilizado posteriormente no YouTube e já tem mais de 15 mil visualizações.
"É importante que a equipe tenha conhecimento das primeiras lesões. Por isso, temos ampliado a capacitação", explicou o secretário da Saúde da cidade de São Paulo, Luiz Carlos Zamarco.
O Estado de São Paulo avalia replicar esse tipo de capacitação nas escolas da rede, segundo informou a coordenadora de Controle de Doenças do Estado, Regiane de Paula."Isso é um pouco do que imaginamos que possamos fazer para todo o Estado junto com as escolas estaduais, levar o treinamento e capacitação", disse Regiane.
Uip destacou que a varíola dos macacos é uma doença "absolutamente diferente" da covid-19, do ponto de vista de contágio e letalidade. "Mas não (é diferente em relação à) necessidade de providências." Já o secretário Gorinchteyn lembrou que não se trata, no momento, de uma "emergência de saúde pública", como foi com a covid-19, mas é preciso trabalho integrado.
Entre as medidas anunciadas, o secretário disse ainda que o Estado está investindo na vigilância laboratorial e genômica por laboratórios públicos e privados, sob o comando do Centro de Vigilância Epidemiológica e do Instituto Adolfo Lutz.
A validação de diagnósticos positivos não dependerá da confirmação pelo Instituto Adolfo Lutz, informou a pasta, mas as amostras continuarão a ser enviadas para o instituto estadual a fim de que seja feito o acompanhamento genômico da doença. A rede também vai credenciar outros laboratórios do Estado para a realização de exames em tempo real.
"Você pode errar uma vez, mas não pode ser surpreendido a segunda vez. Na pandemia de covid, faltou governança, resposta rápida, informação, insumos e vacinas até determinado momento. E sobrou o aprendizado. Estamos no meio de uma pandemia e entramos em um surto do monkeypox", disse Uip.
Vacinas e tratamento
O governo paulista ainda aguarda a compra de 50 mil doses de vacina pelo Ministério da Saúde, que serãp distribuídas entre os Estados, e a definição de qual será o público prioritário para a aplicação dessas doses. O Instituto Butantan e o Ministério da Saúde também negociam o envio de insumo farmacêutico ativo (IFA) para que a vacina possa ser produzida no Brasil, pelo Butantan ou pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mas essas tratativas não terão respostas imediatas.