Opinião

Um olho no bife, outro no gato

Os jornais têm noticiado nos últimos dias, dois sérios problemas envolvendo a agricultura, em países diferentes. O primeiro reporta ao Sri Lanka, país cuja renda per capta não passa dos quatro mil dólares ao ano. Lá o Presidente, acreditando na fantasia dos verdes que abundam no “Acordo de Paris”, resolveu tornar-se o primeiro país do mundo a ter uma agricultura totalmente orgânica. Para tanto proibiu a importação de fertilizantes e defensivos agrícolas, sem os quais as plantas (por enquanto) não se desenvolvem e o pouco que cresce é consumido por insetos e fungos.

Como não poderia ser diferente, os poucos recursos da ilha tiveram que ser aplicados na compra dos alimentos que deixaram de ser ali produzidos. Mas a grana foi insuficiente para comprar os alimentos que o povo demandava. Este revoltou-se e invadiu o palácio presidencial. O líder, vendo-se acuado fugiu para salvar a vida, renunciando dias depois, através de e-mail.

O segundo caso ocorreu em outro país, este com renda per capta dez vezes maior que o da pobre ilha oriental. Agora estamos na rica Holanda onde uma onda de protestos de agricultores derramou estrume na vizinhança de órgãos públicos, exigindo igualdade na distribuição do ônus para diminuir os efeitos dos gases do efeito estufa.

O discurso do governo defendo que é preciso criar uma nova agricultura “menos intensiva e mais limpa” o que traduzido para o vulgo quer dizer menos plantio e menor criação de animais. Há um risco iminente de fechamento de cerca de 30% das fazendas holandesas.

Nas áreas lá denominadas de “habitats vulneráveis” essa redução atingirá 95% em oito anos e a imediata consequência será a extinção de numerosas fazendas.

Parece que este episódio muda um pouco a ideia que temos sobre a Europa, pois sempre achamos que eles nos pressionam para diminuir a emissão dos gases poluidores e não fazem a parte deles.

Os dois exemplos mostram que estamos diante de um risco. Se diminuirmos drasticamente os fertilizantes e defensivos das lavouras, vamos repetir o Sri Lanka com sua fome ou a Holanda com a revolta e possível fechamento de fazendas produtivas.

A poluição é um mal a ser combatido, porém não tem a urgência da fome. Ele deve ser feito com métodos e com cautela, para não produzir um estrago maior do que se quer combater.

O Ex-presidente do Google, Eric shmidt e hoje um dos homens mais ricos dos Estados Unidos diz que a palavra do momento é bioeconomia, que seria para ele a maior revolução depois da internet. Com ela, ele diz, podemos “cultivar” novas coisas como um plástico que não afeta o meio ambiente. E o que é mais sensacional, programar micróbios geneticamente para que eles ajudem no cultivo de cereais, substituindo parte dos fertilizantes e defensivos.

Entretanto, enquanto esse “milagre” não acontece, é interessante mantermos um olho no bife e outro no gato, ou seja, não ignorarmos as virtudes e as boas intenções do Acordo de Paris, mas cuidarmos de nossas lavouras, que, por enquanto, necessitam de adubos e defensivos para produzirem com fartura.

Renato de Paiva Pereira – empresário e escrito

renato2p@terra.com.br  

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