Anna Maria Ribeiro Costa
Técnica: nanquim sobre papel vegetal
MAIS DO QUE UM ARTEFATO, UMA FILOSOFIA DE VIDA
O consumismo é o ato de comprar, caracterizado pela ausência de necessidade por parte do comprador, ou seja, comprar muitas coisas que lhe são indispensáveis. O modo de vida sustentado em uma alarmante inclinação ao consumo de bens ou serviços, por prazer, sucesso e felicidade, frequentemente é atribuído aos meios de comunicação de massa.
Contrariamente ao consumismo, o minimalismo vem crescendo no planeta. Surgido nos Estados Unidos na década de 1960, significa o conjunto de movimentos artísticos e culturais que transpassaram os séculos XX e XXI, manifestos por seus fundamentais elementos como as artes, o design, a música, a literatura, a arquitetura, dentre outros. As obras minimalistas existem com um mínimo de recursos e elementos.
O minimalismo também significa um modo de vida assumido por pessoas que optaram por se livrar dos excessos materiais em prol do que é realmente importante para a felicidade, realização pessoal e liberdade. Nesse aspecto, penso nos povos indígenas. Penso no povo indígena Nambiquara que não se preocupa em acumular bens materiais. Tem por princípio possuir o necessário.
Fonte: BH Recicla
Para além do minimalismo, os indígenas Nambiquara não possuem todos os mais de cem artefatos que sabem fazer. Os artefatos existentes em uma casa são compostos por pouquíssimos itens, pois são confeccionados quando necessitam. Isso proporciona facilmente sua acomodação em um cesto-cargueiro e os coloca em constante relação de empréstimo, de troca, de doação.
Emprestar ou doar significa relacionar-se bem com os indivíduos de sua sociedade. Fator de coesão social, produz vínculos sociais de solidariedade, compromisso, reciprocidade que se manifestam nas diversas formas de convivência, como regras sociais que elegem a obrigação de dar, de receber e de retribuir.
Seus artefatos existem para cumprir sua função, para trocar, para emprestar, para doar. E o cesto-cargueiro é também um espaço que define a quantidade de bens que podem possuir e transportar. A noção da partilha e da generosidade desenha o viver dos Nambiquara que acreditam que a felicidade é o único bem acumulável.
Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, escritora e filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.