Pesquisas divulgadas no último dia 4 de junho, mostraram que cerca de um quarto dos eleitores do Bolsonaro tem um perfil de esquerda. A mesma sondagem informou existirem aproximados 25% (1/4) dos eleitores do Lula são de direita.
Isto indica que, para expressiva parte da população, nenhum dos dois candidatos à presidência da República ocupa os extremos do espectro político. Mas somente o fato de ambos não estarem nos extremos – à direita ou a esquerda – não garante que qualquer dos dois tenha suficientes credenciais para ser um bom governante. O ideal, eu imagino, seria ter um presidente de centro, de centro-esquerda ou centro- direita. Daí pra frente (esquerda e ultraesquerda – direita e extrema-direita) já entra na seara dos radicais e quanto mais perto os eleitores estiverem dos dois pontos opostos, serão mais intolerantes e antidemocráticos.
Lula e Bolsonaro não são, eu penso, genuinamente democráticos. Ambos manifestam muitas vezes tendências autoritárias, que são contidas (por enquanto) pelas instituições, que são a base de qualquer democracia.
Na maioria dos países Europeus elas (as instituições) são suficientemente sólidas para permitir que governos com tendências direitistas se alternem com outros com vieses de esquerda, sem comprometer o bem maior que é a liberdade política do povo.
Como a democracia é uma condição gerada pelo cultivo incessante da tolerância, ela não pode e não consegue conviver com os radicais, pois estes maquinam dia e noite o “cancelamento” ou eliminação dos que pensam diferente.
O que garante o equilíbrio das sociedades não são as pessoas, pois estas são substituíveis e trocadas a cada período. O que realmente conta são as instituições que elas fundaram e que o tempo aprimorou.
Essas organizações são ferramentas que precisam ser eticamente forjadas e amadurecidas por longo tempo, até que adquiriram uma têmpera tal, que não possam mais ser rompidas por eventuais aventureiros.
Os países que “deram certo” são aqueles que durante décadas e séculos valorizaram suas instituições, impedindo que elas fossem atacadas ou desprestigiada. E tem um detalhe importantíssimo, países podem copiar o sistema tributário de outro mais desenvolvido, reproduzir seu plano econômico, imitar sua proposta educacional, até inspirar-se em suas leis, mas não consegue igualá-lo. O que faz uma nação “rica” é a qualidade de suas instituições e elas, definitivamente, não podem ser copiadas.
Não são plagiáveis, cada país tem que construir as suas à própria imagem e semelhança, passo a passo, até que se transformem em um patrimônio sólido que somente pode ser calado pelo uso da força.
Nossas organizações ainda não estão suficientemente maduras para resistirem aos ataques que estão recebendo e por isso correm riscos. Levar a população, como está acontecendo, a descrer da Justiça; demonizar a imprensa livre e a duvidar, sem nenhum motivo, do sistema eleitoral é um plano da extrema-direita, gestado para levar à ruptura institucional.
A Instituições brasileiras estarão tão mais seguras, quanto mais a tendência do povo convergir para o centro político. Este centro (não confundir com Centrão) é sereno, tolerante e flexível. Admite ideias divergentes, mesmo as antagônicas; só não aceita o fim da democracia, símbolo maior da transigência e da liberdade.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor