No final do dia desta quinta-feira (26/05/22) o Datafolha, o mais antigo instituto de pesquisas eleitorais do País, divulgou números atualizados sobre a corrida eleitoral deste ano.
O que torna esta divulgação mais importante que as outras, é que ela foi feita após a desistência do João Dória, que insistia, mesmo sem o apoio do próprio partido, em manter sua inviável candidatura. A relevância não se dá pelo volume dos votos do desistente a serem distribuídos entre os remanescentes, mas porque a renúncia levou à consolidação do nome da Simone Tebet como representante da “Terceira Via” e criou alguma expectativa no meio político e na mídia em geral.
Os sonhadores da terceira via ainda apostam que a candidatura da Senadora Sul-mato-grossense acabará despertando o eleitorado feminino, dando-lhe alguma chance na disputa.
Dizia-se antes da divulgação dos dados, que eles poderiam selar o destino da postulante Simone. Caso ela não alcançasse uma pontuação interessante, seria rifada como o foram Sergio Moro, Henrique Mandetta e João Doria.
Os dados revelados reforçam a inviabilidade da Terceira Via, posto que a Simone alcançou somente 2% de eleitores e o Ciro repete os recorrentes 8% de sempre.
A confiar nos dados publicados, parece que ficamos com 4 cenários possíveis com graus diferentes de risco para nossas instituições. No Primeiro, o Bolsonaro ganha a eleição já no primeiro turno com vantagem confortável. Nessa hipótese ele continua no governo, deixa de protestar diariamente contra as urnas eletrônicas e dedica-se a atacar somente o STF, a imprensa e a Petrobrás.
Na segunda opção, Lula e Bolsonaro passam para o segundo turno. Neste caso começa a complicar a situação das instituições nacionais. Prevendo possível derrota, o Presidente e sua turma intensificarão os ataques às urnas, antecipando possível questionamento de resultado desfavorável, no segundo turno.
Terceira circunstância: o Bolsonaro ganha no segundo turno. Este é um quadro que deveria ser favorável à democracia, mas como houve um ataque desmoralizador às urnas e ao STF, entre o primeiro e segundo turnos, os eleitores continuam a duvidar da seriedade das eleições e da Justiça, deixando a arma engatilhada para a próxima campanha eleitoral, disputada, quem sabe, por um filho do Presidente.
Mas a coisa pode agravar ainda mais: o Lula ganha a eleição no segundo turno, o que, para os bolsonaristas radicais, confirmaria a fraude prevista e alardeada nestes dias que ficaram entre um turno e outro. Este fato justificaria uma tentativa de rompimento com as instituições democráticas.
A pior possibilidade seria Lula ganhar as eleições no primeiro turno. Ficaria claro para os bolsonaristas raiz que houve uma conspiração geral para favorecer o PT. Tal fato legitimaria uma invasão do Supremo e extinção do TSE.
Paradoxalmente, para mantermos a democracia, o remédio é votar no candidato antidemocrata. Embora esta seja uma proposição retórica, é bom sabermos que há um risco real de rompimento institucional e que não existe vacina que evite este mal. Para ele se concretizar neste momento, basta o Lula ganhar a eleição e as Forças Armadas, comandadas pelo Capitão, toparem melar o jogo.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor