Acho que a Fábula, esta interessante forma de literatura infantil, está em desuso. Também pudera! Sua beleza singela não tem como competir com as luzes, cores e sons dos modernos smarthphones, tablets e ipads que encantam a garotada.
Esopo, o escravo grego que viveu no século VI antes de Cristo, foi um mestre da fábula. Recolheu do estoque popular um monte delas, e criou outras tantas, que recicladas, reescritas e reinventadas chegaram até nós.
No século XVII, o francês Jean de La Fontaine, deu uma roupagem literária às fábulas de Esopo, contando-as de forma criativa e atraente, além de inventar as próprias histórias.
Fábulas são textos curtos que trazem uma moral implícita ou verbalizada, sempre mostrando animais que falam e que encarnam as virtudes e os defeitos dos homens. No fim tiram lições, recomendam boas condutas ou reprimem os malfeitos e as safadezas dos seres humanos, que os animais representam.
De Esopo, temos a fábula do Lobo e do Cordeiro:
“O Lobo bebia água a 10 metros acima do cordeirinho que também saciava-se.
– Você está sujando a água que eu bebo – disse o Lobo fingindo zanga.
– Como posso fazê-lo se o senhor está acima de mim? A água corre daí pra cá. Retrucou humildemente a ovelhinha.
– Mas, na semana passada, seu irmão sujou a minha água. Insiste o lobo
– Não tenho irmãos, senhor Lobo.
– Se não foi seu irmão, foi seu pai.
Dito isto, o lobo lançou-se sobre o cordeiro e o devorou.
Moral da história: o forte não carece de desculpa para engolir o fraco.”
2022: Um Urso Branco (ou seria russo), dono de extensas áreas, cobiçava as terras do Urso Pardo, seu vizinho.
Inventou uma desculpa, “Vou devorá-lo porque você está sendo cruel com seu povo, agindo como um nazista.” Disse o agressor.
“Mas como, senhor Urso, eu, sendo judeu, posso admirar o nazismo?
“Se não pé por isto, é porque você está se aproximando dos seus vizinhos do oeste para me enfrentar” insiste o Urso Branco.
“Se o faço, é pra me defender de quem quer tomar minhas terras”. Diz o Urso Pardo.
“Se ferrou, cara. Vou invadir sua casa. Por mais que você esperneie ela será minha”. Decretou o Urso Branco.
Aí os vizinhos do oeste, não por amor à vítima, mas por medo do Urso Branco, resolveram agir para dissuadir o invasor.
Esta fábula, no momento está em andamento, não tem ainda a “moral da história”. Se a Putin (o Urso Branco) anexar a Ucrânia, podemos dizer que “a força bruta se impõe de qualquer jeito”. Se o ocidente derrotar a Rússia, concluiremos que “no final a justiça sempre vence”.
Tem uma terceira possibilidade (outra fábula): “o escorpião atravessava um rio nas costas do sapo. No meio do caminho, inesperadamente, ele ferroou a nuca do anfíbio. “Por que fez isto idiota?”, pergunta o sapo assustado “nós dois vamos morrer”. “Não pude evitar”, explica o escorpião “é meu instinto”.
O veneno do escorpião é a bomba nuclear. Será que o Urso Russo vai acioná-la, mesmo sabendo que morrerá junto?
Depois do desfecho da guerra concluiremos esta fábula. Mas, se enquanto esperamos, o escorpião injetar o veneno (apertar o botão vermelho) não haverá mais fábulas, nem pessoas para ouvi-las.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor