A aplicação de células estaminais mesenquimais do tecido adiposo é segura e eficaz na redução de sintomas em doentes com lúpus renal, ou nefrite lúpica, que não respondem aos tratamentos convencionais, revela um estudo publicado na revista científica Current Research in Translational Medicine.
Este ensaio clínico incluiu nove doentes, entre os 19 e os 36 anos, com nefrite lúpica diagnosticada há cinco anos, em média, que não respondiam às terapias convencionais. O tratamento experimental consistiu numa única infusão de células estaminais do tecido adiposo, obtido por lipoaspiração, tendo os dadores de células sido irmãos saudáveis dos participantes, com idades compreendidas entre 25 e 40 anos.
Após a administração de células estaminais, observou-se uma diminuição da excreção de proteínas na urina, revelando uma melhoria na disfunção renal característica da nefrite lúpica. Três meses depois, os níveis de proteína na urina começaram a aumentar gradualmente, mantendo-se, contudo, abaixo dos níveis registrados pré-tratamento. Não se verificaram reações adversas ao tratamento experimental, à exceção de um episódio de hipertensão, que foi resolvido.
Além destas melhorias, verificou-se a diminuição da frequência de outros sintomas de lúpus, como o eritema malar (lesões cutâneas na face, em forma de borboleta), artrite, dor de cabeça, febre, queda de cabelo e alterações na visão. Ao final de um ano, várias destas manifestações tinham desparecido totalmente, nos doentes que antes as apresentavam.
Estas melhorias traduziram-se numa diminuição significativa do índice de atividade da doença, a partir da primeira semana após a administração de células estaminais e ao longo de todo o período de acompanhamento. Segundo os autores, este efeito positivo poderá dever-se, por um lado, a um efeito protetor exercido pelas células estaminais através da sua ação anti-inflamatória, e por outro, à sua ação de reparação das células afetadas.
Estes dados indicam que as células estaminais mesenquimais do tecido adiposo tiveram um impacto positivo nos sintomas renais de lúpus, embora com eficácia temporária, apontando para a necessidade de administração periódica do tratamento experimental, de forma a manter a eficácia e prevenir recaídas.
"A probabilidade de um doente com lúpus responder aos tratamentos convencionais e de se manter em remissão dez anos após o diagnóstico é extremamente baixa", estimando-se que possa ser inferior a 5%, segundo comunicado. Isso, bem como o fato de os tratamentos convencionais estarem associados a efeitos secundários indesejados, impulsionou a procura de novas alternativas terapêuticas. "Uma das alternativas em estudo são as células estaminais mesenquimais, que, pelas suas capacidades anti-inflamatórias e de regulação do sistema imunitário, têm vindo a ser investigadas ao longo das duas últimas décadas, em vários ensaios clínicos, no tratamento de doenças autoimunes" explica Bruna Moreira, investigadora do departamento de I&D da Crioestaminal.
As mulheres jovens são as mais afetadas pelo lúpus eritematoso sistêmico, uma doença reumática de caráter autoimune, que se caracteriza pela presença de anticorpos contra o próprio organismo, provocando danos em múltiplos órgãos. Uma das complicações frequentes é a alteração no funcionamento dos rins, sob a forma de nefrite lúpica, que se verifica em 60% dos doentes, estimando-se que evolua para doença renal crónica ou terminal em cerca de 25% dos casos.