Antes tarde do que nunca, ou quase. Então, cara cronista exilada do outro lado do túnel, vamos ficar com a segunda hipótese enquanto é possível. A ausência de informações para alguém que como você se exilou voluntariamente pode ser uma benção, querida amiga.
Há vários anos, verifico aqui nos dados compilados, que eu, Pluct Plact, o extraterreste, pipoco pelo planeta trazendo as notícias pelo raio de luar dançarino que atravessa a janela de sua cela. É a fresta. Hoje, afirmo com tristeza ser cada vez mais difícil manter seu interesse nessa conexão interplanetária com o mundo exterior.
Dessa vez esperei o fim do trânsito de mercúrio retrógrado (a gente tem que apelar pra tudo aprendi, a duras penas, por aqui) para ver se as tensões aliviavam com a abertura dos caminhos astrológicos. Não sei não… Só sei que não dava para deixar passar o período que você mais gosta, a pré-folia, com sua imaginação correndo solta e projetando o que seria o carnaval que, lamento informar, está aí, mas de um jeito diferente.
Carnaval de rua? Não vai ter. Ensaios técnicos na Sapucaí? Também não. Desfiles das escolas de samba? Nem pensar. É a pandemia da ignorância e do descaso com a maior festa popular do planeta e seus integrantes. 2022 é o ano do arremedo. Não pode a festa do povo, a não ser que seja paga.
Sorte de quem não teve que explicar o atraso nas obras da Sapucaí. Não está pronta. Como não esteve para os ensaios técnicos, de casais de mestre-sala e porta bandeira, comissões técnicas, alas coreografadas e baterias nos meses que antecederiam a folia. Ensaios de rua também foram suspensos a pedido. Mas quadras lotadas e festas estiveram liberadas em janeiro.
O carnaval foi transferido por decreto para abril (já sei, vai dizer que é sacrilégio, não é?). Primeiro a quaresma, depois a páscoa e aí vem a folia. Mais um cavalo para a festa de São Jorge. Difícil assimilar? Então segura essa: para o lançamento de uma novidade, a marca Rio Carnaval, haverá na Cidade do Samba um evento com todas as escolas do grupo especial.
Dois dias de apresentações no palco com os sambas, pavilhões, baianas, baterias e… um mini desfile na pista interna do complexo carnavalesco. 50 minutos por escola. Parece piloto para o nirvana das transmissões da TV. Pra que 4.000 componentes se o quadro fica cheio com 150 foliões? Tipo o antigo Maraca e o novo.
Não estranhe, cronista, a nova marca. Depois da pesquisa indicar que os ícones referências da festa são os pavilhões das agremiações, sabe o que se faz? Pasteuriza e resume o peso simbólico das bandeiras em tiras ambulantes coloridas. Não tente entender cronista, a não ser depois que assistir a explicação.
Feche os olhos e se deixe levar pela águia, o beija-flor, o surdo, as coroas e o imagético que está em seu coração e mente de foliã. Mas não faça como a freirinha carmelita. Nos dias de folia não pule o muro! A realidade está muito diferente aqui fora.
O espaço está acabando. Só dá tempo de uma rápida pincelada em assuntos, digamos, secundários. Canadá, EUA, França, entre outros países europeus, enfrentam uma onda ultradireita negacionista antivacinas que rasga o mapa no inverno do hemisfério norte e chega a Austrália no do sul. Caminhoneiros na fita. Ainda não chegou ao Brasil que pode ter tido seu pré-teste em setembro, lembra?
Como se não bastasse, há a eminência de guerra na Ucrânia envolvendo as maiores nações mundiais. Tudo junto e misturado com a turnê do mandatário brasileiro à Rússia. Todos recomendam não ir, o que para ele é um sim.
Dizem que o poço até aqui de frustrações e violência ainda não transbordou por causa dos Jogos de Inverno em Beijing. Ele reúne esportistas de todas as nações envolvidas. Aguardaremos o rumo dos acontecimentos após os sempre espetaculares fogos de artifícios com expertise chinesa que encerrarão o evento mundial.
É muita insanidade, cronista? Depois, dizem que a louca é você…
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Das séries “É carnaval” e “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com