Opinião

Maus fora da escola (II)

Em um curto espaço de tempo, os dias que antecederam e sucederam ao Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, comemorado em 27 de janeiro, trouxeram declarações catastróficas. Chegou ao público a decisão do Conselho de Educação de uma escola do Estado de Tennessee, Estados Unidos, em banir do currículo escolar de alunos do 8º ano (13 a 14 anos) a HQ Maus, de Art Spiegelman. A proibição do livro pautou-se na alegação, dentre outras, de o mesmo fazer uso de “uma linguagem crua e questionável”, além do “nudismo de uma rata” (para denunciar o antissemitismo na Polônia, os quadrinhos de Spiegelman apresentam os judeus como ratos e os nazistas como gatos). Depois, as declarações da atriz Whoopi Goldberg: “Vamos ser sinceros sobre isso porque o Holocausto não é sobre raça. É sobre a desumanidade do homem para com o homem.” Não bastando, poucos dias após as declarações de Goldberg, o influenciador digital Monark afirmou que “deveria existir um partido Nazista legalizado no Brasil”. Sobre este último episódio, vale uma visita ao Instagram da historiadora Lilia Schwarcz.

Neste segundo episódio, Maus fora da escola (para ler Maus fora da escola I, acesse http://circuitomt.com.br/editoriais/artigos/167079-maus-fora-da-escola-i.html), traz fragmentos de Holocausto em ‘Maus’: tema e universo fraturantes em HQ, um estudo escrito por mim, Rosemar Eurico Coenga e Fabiano Tadeu Graziolli (texto na íntegra: https://periodicos.utfpr.edu.br/rl/article/view/13790). Nossa proposta consistiu justamente em discutir o Holocausto usando a HQ Maus: a história de um sobrevivente, de Spiegelman. O Holocausto ou shoah – em hebraico, catástrofe – ocasionou milhões de mortes, a sacrificar coletivamente judeus, ciganos, homossexuais, deficientes mentais e físicos. Contrariamente ao Conselho de Educação de Tennessee, nossa altercação conduziu ao entendimento de que o Holocausto pode ser narrado pela arte sequencial da HQ proposta por Spiegelman. E mais: que temas fraturantes na literatura infantil e juvenil têm se tornado recorrentes nas narrativas contemporâneas.

O encontro entre os campos da Literatura e da História presente em Maus, tratado com seriedade e dignidade pela ilustração e pelo texto de Art Spiegelman, consiste em um testemunho histórico do genocídio praticado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial que vitimou judeus e outras minorias. Essa temática integra as tendências contemporâneas da Literatura, à medida que conhece as atrocidades do Holocausto. Deve, também, chamar muito a atenção de todos ao tempo presente diante aos tantos acontecimentos que contrariam os direitos humanos e que podem levar um novo recrudescimento do racismo e da xenofobia.

Maus possui uma linguagem acessível ao público juvenil. Surge como mediadora entre cultura juvenil e conhecimento histórico. Os aspectos do antissemitismo e do nazismo são revestidos de atualidade e se mostram pertinentes ao jovens leitores. Isso porque a xenofobia, a questão dos refugiados, os preconceitos religiosos, a intolerância a todas as formas de discriminação encontram-se presentes no nosso dia a dia, demonstrados nos recentes acontecimentos descritos acima.

 

Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, escritora, filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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