Opinião

Maus fora da escola (I)

No início deste mês, Maus, história em quadrinhos (HQ), única no gênero a vencer o Pulitzer, prêmio estadunidense conferido ao jornalismo impresso, literatura e composições musicais, foi removido por unanimidade pelo Conselho de Educação de uma escola do Condado de McMinn, Tennessee, Estados Unidos. Nas páginas da história deste estado norte-americano está inscrita a fundação da primeira Ku Klux Klan, ao final da Guerra Civil, em 1865, que objetivou, com uso de métodos violentos, a oposição da integração de negros recém libertos a adquirir terras e ter direitos concedidos aos outros cidadãos, entre eles, o de votar. Também se inscreve o assassinato de Martin Luther King, pastor batista, ativista político e líder do movimento dos direitos civil nos Estados Unidos.

A HQ de Art Spiegelman, tem como base suas entrevistas com Vladek Spiegelman, seu pai, acerca de suas memórias no campo de concentração da Alemanha nazista que pôs em prática o extermínio de judeus, ciganos, homossexuais e pessoas com deficiência. Justificado pela lógica da superioridade racial, resultou em milhões de mortes coletivas. Maus, consagrado um clássico contemporâneo dos quadrinhos, conta uma história sobre os pais do autor, Vladek e Anja, desde os anos de 1940 até o internamento em Auschwitz. Os quadrinhos apresentam os judeus como ratos e os nazistas como gatos para denunciar o antissemitismo na Polônia.

O encontro entre Arte, Literatura e História presente em Maus, tratado por Art Spiegelman com seriedade e dignidade, consiste em um precioso documento sobre o genocídio praticado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Temática que continua integrando tendências contemporâneas da Arte, da Literatura, da História e do Cinema, a denunciar, sob múltiplos aspectos, as atrocidades do Holocausto. Testemunhos históricos que nos levam a aguçar ainda mais nossa atenção ao tempo presente, diante aos tantos acontecimentos avessos aos direitos humanos que podem levar a um recrudescimento maior do racismo e da xenofobia.

Art Spiegelman, nascido em 1948 em Estocolmo, Suécia, estarreceu-se com a notícia do banimento de Maus, quando declarou: “Eu superei a perplexidade total para tentar ser tolerante com pessoas que podem não ser nazistas, talvez. […] Eles estão totalmente focados em alguns palavrões que estão no livro. Eu não posso acreditar que a palavra ‘droga’ faria o livro ser jogado fora da escola por conta própria.” E, ainda: “Acho que eles são tão míopes em seu foco e têm tanto medo do que está implícito e ter que defender a decisão de ensinar ‘Maus’ como parte do currículo que leva a esse tipo de resposta míope.”

Pelo Twitter, o Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos se pronunciou em relação à remoção de Maus do currículo escolar: “Maus teve papel fundamental na educação sobre o Holocausto através de sua retratação detalhada e pessoal da experiência das vítimas e sobreviventes. Na véspera do Dia Internacional da Lembrança do Holocausto (27 de janeiro), é mais importante do que nunca que os estudantes aprendam essa história. O uso de livros como Maus para ensinar sobre o Holocausto pode inspirar alunos a pensar criticamente sobre o passado, e sobre seus papéis e responsabilidades hoje.” Pela Internet, o Museu do Holocausto de Curitiba recomenda a leitura do artigo “Imagem do Holocausto em Maus, de Art Spiegelman” e “Quadrinhos e Literatura nos ensinam sobre a realidade e a ficção”.

Enquanto isso, no Brasil e por aí afora, grupos neonazistas agem pela Internet, com postagens homofóbicas e racistas.

 

Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, escritora e filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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