Opinião

A fé move montanha, mas não evita a covid

Apesar de já ter contraído Covid e tomado as três doses da vacina, como recomenda a OMS, peguei de novo a tal doença.

Os antivacinas, que conhecem minha firme e manifesta posição sobre a importância da imunização, por certo estão perguntando se, com este novo episódio, não perdi a fé nos imunizantes.

Não, não perdi porque nunca tive fé na vacina. Crenças não convivem com ciência. O que sempre escrevi sobre as vacinas, e a da covid especialmente, está baseado no trabalho de pesquisadores.  Fé pertence ao reino das religiões e não precisa de comprovações: “é um dom de Deus”, como garante a Bíblia.

A Ciência navega em outros mares. Aqui cada coisa precisa ser comprovada, repetida uma e outra vez  por pessoas diferentes, até que não restem mais dúvidas sobre ela.

A vacina da Covid, como outras mais de 20 que são usadas anualmente no Brasil em adultos e crianças, principalmente nestas, são baseadas em sólido conhecimento científico, aceito no mundo todo.

Sempre houve, em alguns lugares – os mais desenvolvidos, por absurdo que seja – alguma rejeição à imunização infantil. Os renitentes são tribos ligadas a movimentos ambientalistas e a algumas religiões que acreditam ser a natureza pródiga e seu Deus suficientemente zeloso, a ponto de prescindirem do apoio da ciência.

Mas de um tempo para cá, às razões “bichogrilistas” e religiosas, acrescentou-se a motivação política.  Pessoas, seguindo líderes negacionistas, recusam-se a receber a vacina. Os Estados Unidos tornaram-se o principal exemplo moderno desta tendência e estão pagando alto preço pela adesão a ideias do falastrão Trump.

Os desenvolvedores das vacinas atuais nunca prometeram que os vacinados não se contaminariam. A ênfase sempre foi na mitigação dos efeitos nas pessoas imunizadas, o que se comprovou totalmente. Pessoas que  estão se contaminando após a vacinação tem relatado casos muito mais brandos da doença, segundo os médicos. Também os reinfectados e vacinados atestam um segundo episódio bem mais leve que o primeiro.

Já há algumas publicações na mídia, sugerindo que esta variante Ômicron com seus efeitos provavelmente mais suaves e menos duradouros, associados ao poder da vacinação, que suaviza os males da covid, nos dão uma expectativa de estarmos a poucos passos, não de vencermos o vírus, mas, pelo menos de estabelecermos com ele uma convivência tolerável, tal qual temos com a influenza.

Claro que cito meu caso sem nenhuma intenção de dizer que ele comprove alguma coisa. Se o fizesse estaria no mesmo balaio dos que alardeiam ingenuamente que mesmo sem vacina nunca pegaram a doença, enquanto outros – duplamente vacinados – contaminaram uma ou duas vezes. Estatísticas se fazem com milhares de casos, não com episódios individuais.

Metaforicamente a fé move montanhas, mas na prática é melhor deixá-la cuidando da vida espiritual e nos fiarmos na ciência, se quisermos “prolongar nossos dias na face da terra”, como sugere a Bíblia.  Não há nisso nenhuma descrença, pois em última instância a ciência foi dada por Deus, como creem os religiosos.

Também é bom afastar-nos dos falsos profetas antivax, e principalmente do “Messias” que encarnando a leviandade e o destempero, opõe-se ao verdadeiro enviado bíblico,  defensor e praticante da humildade e da temperança.  

Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor

Renato2p@terra.com.br

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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