Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
(Ausência, Carlos Drummond de Andrade, Minas Gerais, 1902-1987)
Partiste! Só, fiquei na casa imensa
e via a tua sombra em toda parte,
ouvia os passos teus e a procurar-te
perdi-me até da fé, da luz da crença.
Chorava tal carência, fria e densa…
Cansada de sozinha, enfim, buscar-te,
Senti, na poesia, o baluarte
Do meu viver sem ti – a recompensa.
Já não lastimo, não, a tua falta,
Pois vejo-te nas luzes da ribalta,
Na ausência tão presente, em tudo enfim…
Estás aconchegado na saudade,
Nos versos que te faço, à puridade,
Partiste sem partir, estás em mim.
Edir Pina de Barros é membro da Academia Brasileira de Sonetistas e da Academia Virtual de Poetas de Língua Portuguesa. Seus poemas estão disponíveis em vários livros, antologias, revistas eletrônicas e nas mídias sociais. É doutora e pós-doutora em Antropologia pela USP, professora aposentada (UFMT). Nasceu no Mato Grosso do Sul e hoje reside em Brasília.