Não consigo atinar com a tática política do Presidente Bolsonaro. Parece que ele faz tudo para parecer desastrado à maioria da população, desde que agrade aos apoiadores. Não é possível que ele esqueça de todas as atitudes destrambelhadas que tomou e foram barradas no STF, como é o caso de liberar os estrangeiros que querem entrar aqui sem vacina e também a imunização das crianças, que se não fosse derrotada pela absurda consulta pública, cairia no Supremo. Ele perde todas e não toma jeito.
Acho que a historinha a seguir ilustra a relação Bolsonaro/Supremo. Contratei um caseiro (Sebastião) meio "quarta-feira" cujo filho de oito anos, era mais “somongó” que o pai. Toda vez que eu ia na chácara o “Fio do Bastião” ficava de tocaia atrás de uma árvore esperando eu entrar no carro para jogar as pedras que trazia no bolso. Eu descia, dava uma bronca e ele saia correndo chorando. Mas, era ligar o carro ele mandava outra pedrada. E a cena se repetia: o menino jogava a pedra, eu descia, ele corria chorando. Era o carro andar de novo e ele dava outra pedrada.
Assim está o Bolsonaro com o Supremo: o Presidente faz uma asneira, os ministros puxam-lhe as orelhas ele foge. Quando o STF sossega o “Fio do Bastião”, ops, o Bolsonaro vai e dá outra pedrada, desperta nova reação e foge de novo.
Antes da fuga ele faz alguma pose: produz um discurso que serve para manter a base excitada, e ao mesmo tempo, não passar a ideia de enfrentamento pessoal dos ministros.
Mas o Presidente, mesmo colecionando vexames, não aprende. Ele garantiu que iria exigir autorização dos pais e prescrição médica para vacinar crianças, entretanto, antes de perder a parada definitivamente, mais de 20 Estados na União já afirmavam que não seguiriam as determinações dele.
Poucos dias antes, ele mandara o Ministro da Educação proibir as Universidades de exigirem atestado de vacinação para reiniciar as aulas e perdeu outra: O ministro Lewandowski cancelou a ordem e os reitores comemoraram.
Parece que ele faz tudo isso para agradar os 25% que são seus seguidores fiéis, que vibram com suas asneiras. Com estes seguidores ele não precisava gastar munição ou retórica, pois sempre estarão com ele, independentemente do que faça ou deixe de fazer.
Entretanto, pregando somente para os convertidos, isto é, mantendo os 25% que o idolatram, provavelmente conseguirá votos suficientes para passar para o segundo turno, mas nunca para ganhar a eleição.
Daí a necessidade de cativar outros eleitores. Mas ele costuma ignorar as maiorias: vive, por exemplo, bajulando os evangélicos – cerca de 30% da população – e ignorando nos discursos os católicos que representam mais de 50%.
Por isso é que não entendo, qual o plano eleitoral do Presidente. Não é razoável supor que alguém com 30 anos na vida política mostre tamanha ingenuidade. De repente ele é tão sagaz que não conseguimos entender sua tática.
Mas, em contraponto, não custa lembrar a frase de Robert J. Hanlon: Nunca atribua à esperteza o que pode ser adequadamente explicado pela inépcia”.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor