“Mulheres”, livro do saudoso escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) homenageia artistas, cientistas, indígenas, guerrilheiras, prostitutas, santas e ativistas, sejam elas anônimas ou célebres. Os textos, selecionados por Galeano acham-se em Memória do fogo, Livro dos abraços, As palavras andantes, Vagamundo, Dias e noites de amor e guerra. Galeano também escreveu Veias Abertas da América Latina que está completando neste ano meio século. Um livro que esteve/está sobre mesas de cabeceiras de muitas gentes que pretendiam/pretendem fazer valer, a qualquer custo, a liberdade.
Charlotte Perkins Gilman, Rigoberta Menchú, Nillie Bly, Fátima Mernissi, Frida Khalo, Isadora Duncan, Jacinta de Siqueira, Hedda Sterne, Janet Sheed Roberts, Eva, Tereza de Benguela, Xica da Silva, Manuela Saénz, Violeta Parra e tantas outras são as “Mulheres” de Galeano. Mulheres da América Latina e de lugares que de uma forma ou de outra ligam-se a ela.
Tereza de Benguela, à frente do Quilombo do Piolho ou do Quariterê após a morte de José Piolho, seu marido, tornou-se rainha. Mulher dos anos setecentos, “conhecida” por muitos desta terra, liderou o quilombo formado por índios e negros fugidos das minas auríferas de Vila Bela da Santíssima Trindade que resistiram à violência da escravidão. Quilombo que depois da morte da rainha e de sua destruição virou aldeia Carlota, encravada em território Nambiquara. Teresa, a rainha dos quilombolas de Vila Bela, ganhou dos cariocas versos da Escola de Samba Unidos do Viradouro e, ainda, um dia só para ela no calendário de efemérides.
Nos passos do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), em tempos “de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar”. Teresa, uma das “Mulheres” de Galeano, nos inspira a sermos “lo que hacemos y sobre todo, lo que hacemos para cambier lo que somos”.
Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, historiadora, escritora e filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.