Nacional

Coordenadores do Enem entregam cargo em meio a denúncia de assédio no Inep

Em meio a denúncias de servidores de assédio moral da chefia do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), dois coordenadores responsáveis pelo Enem pediram demissão dos cargos. A saída deles, a menos de 20 dias da realização do exame, teria ligação com a atual gestão do órgão.

Os profissionais têm relação direta com o Enem, principal porta de entrada para o ensino superior no país. Pediram demissão o coordenador-Geral de Logística da Aplicação (do Enem e de outros exames), Hélio Júnio Rocha Morais, e o coordenador-geral de Exames para Certificação, Eduardo Carvalho Sousa. Ambos ainda se afastaram das funções de fiscais dos contratos do exame.

O pedido de exoneração de Carvalho passa a contar a partir de 1º de novembro e o de Morais foi assinado nesta sexta-feira (5), segundo documentos obtidos pela reportagem.

O Inep é responsável, por exemplo, por avaliações educacionais, como o Enem e o Enade (voltado ao ensino superior), e pelos censos da educação básica e superior. O órgão é ligado ao MEC (Ministério da Educação) e o atual presidente, Danilo Dupas Ribeiro, foi levado ao cargo pelo ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro.

Questionado, o Inep não respondeu.

Segundo relatos, ambos coordenadores deixaram os cargos por discordância com Dupas Ribeiro. As duas baixas se somam ao clima de assédio moral e omissão no órgão, segundo denúncia da Assinep (Associação de Servidores do Inep) divulgada na quinta (4).

A movimentação ocorre ainda em paralelo a outras demissões provocadas por descontentamento e que impactam a realização do Enem, operação logística de grande complexidade. As provas estão marcadas para 21 e 28 de novembro.

Em setembro, o então diretor de tecnologia do instituto, Daniel Miranda Pontes Rogerio, pediu exoneração. Um funcionário passou a responder pela diretoria, Humberto Carvalho, mas também pediu para sair em outubro. O cargo agora é ocupado por Roberto Santos Mendes.

A exemplo do ano passado, o Enem também ocorrerá no formato digital. Essa diretoria é a principal responsável por isso.
A gestão de Dupas Ribeiro tem sido fortemente criticada por integrantes do setor educacional e sobretudo pelos técnicos do instituto. Os servidores denunciaram, em carta aberta, Dupas Ribeiro por assédio moral e omissão. Segundo os funcionários, exames como o Enem estão sob risco com a atual gestão.

Dupas Ribeiro teria ainda se negado integrar um time que gerencia riscos das provas, as chamadas Equipes de Incidentes e Resposta do Enade 2021 e do Enem 2021. Historicamente o presidente do Inep capitaneia esses trabalhos.

A Assinep (Associação de Servidores do Inep) promoveu na quinta um ato público em frente à sede do instituto, em Brasília. Cerca de 50 pessoas participaram do ato, que contou com faixas com dizeres como "Enem e censos em risco" e "assédio Moral Não".

"Para além de problemas estruturais que foram negligenciados ao longo da atual gestão do Inep, os servidores denunciam o assédio moral, o desmonte nas diretorias, a sobrecarga de trabalho e de funções e a desconsideração dos aspectos técnicos para a tomada de decisão", diz a carta.

Os servidores afirmam que não há autonomia para o trabalho de diretores e documentos estariam sendo gerados como restritos no sistema eletrônico sem que haja necessidade dessa classificação –informação confirmada pela reportagem. O presidente do instituto ainda se esquivaria de assumir decisões e assinar atos.

"Alertamos, por fim, quanto ao risco da permanência de Danilo Dupas na presidência do Inep, por ter uma gestão caracterizada por afugentar e oprimir pessoas, o que gera vulnerabilidades aos exames, avaliações, censos e estudos", diz o texto.

A chegada de Danilo Dupas Ribeiro ao Inep, em fevereiro, representou a quarta mudança no cargo durante o governo Jair Bolsonaro. Ele chegou ao governo pelas mãos do ministro Milton Ribeiro, de quem já havia sido secretário de Regulação do Ensino Superior.

Dupas Ribeiro é da confiança do ministro e teve atuação no caso, revelada pelo jornal Folha de S.Paulo, de protelação do envio à Polícia Federal de uma denúncia de fraude no Enade contra um centro universitário privado e presbiteriano. O ministro atuou a favor da instituição e enviou pessoalmente Dupas Ribeiro, quando este ainda era secretário, para participar de uma apuração presencial na instituição.

A associação de servidores do Inep tem mantido posição crítica. A organização já divulgou cartas em que critica esvaziamento do órgão e nomeações de critérios ideológicos.

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Nacional

Comissão indeniza sete mulheres perseguidas pela ditadura

“As mulheres tiveram papel relevante na conquista democrática do país. Foram elas que constituíram os comitês femininos pela anistia, que
Nacional

Jovem do Distrito Federal representa o Brasil em reunião da ONU

Durante o encontro, os embaixadores vão trocar informações, experiências e visões sobre a situação do uso de drogas em seus