Comemora-se em 5 de setembro o Dia Internacional da Mulher Indígena. Criado em 1983, se junta às datas comemorativas do Dia do Índio (19 de abril, criado em 1943) e Dia dos Povos Indígenas (9 de agosto, criado em 1995) para guardar na consciência coletiva a rica diversidade dos povos indígenas, com sua sabedoria ancestral.
As datas também têm o propósito de repensar a relação entre povos indígenas e não indígenas, ainda caracterizada por ser extremamente violenta. Objetivam trazer ao entendimento da sociedade não indígena sobre as inúmeras situações de enfrentamento, de resistência, de resiliência, de luta pela sobrevivência física e cultural dos povos indígenas.
Povos Indígenas no Brasil e em outros países encontram-se sujeitos a todo tipo de violência, causada e ignorada por posturas governamentais que incentivam a invasão e exploração dos territórios indígenas. Sem falar na discriminação, intolerância e no racismo profundos contra os povos originários.
Especialmente, o Dia Internacional da Mulher Indígena homenageia Bartolina Sisa (1753-1782), indígena Aymara que em 1781 participou de inúmeras revoltas contra a opressão colonialista espanhola. Ao lado de seu marido, Túpac Katari, Bartolina esteve à frente da organização de batalhões de guerrilhas indígenas e grupos de mulheres em tarefas de resistência em diferentes cidades do Peru. Bartolina e Katari foram vencidos pelas forças colonialistas espanholas e também pelas alianças que foram estabelecidas com os inimigos do casal. Foram presos e sentenciados à morte por enforcamento em 1782.
No Brasil e nos demais países da América Latina, é expressiva a presença de mulheres indígenas à frente de combates contra o desrespeito brutal exercido por parte dos governantes. De acordo com pesquisas da ONU, as mulheres são as principais vítimas de violências. Há um silêncio orquestrado por mãos que sustentam batutas da omissão e da letargia. Por outro lado, pelo Brasil afora, diversos movimentos de mulheres indígenas clamam por vidas mais dignas e respeitosas. Lutam por direitos indígenas, especialmente neste crucial momento em que o futuro das terras indígenas está em disputa, em disputa desleal. Suas vozes, uníssonas, dizem não à tese do marco temporal, que legitima a violência contra os povos indígenas ao acirrar conflitos em diversas regiões do país.
O expressivo espaço de organização de luta das mulheres indígenas tem profundo querer pela garantia dos direitos dos povos indígenas direcionados às questões identitárias, de sustentabilidade. Discute questões de interesse dos povos originários a partir da perspectiva feminina, diante da omissão e letargia do governo federal ao se colocar de costas ao cumprimento do que dispõe a Constituição Federal de 1988.
Esta causa também é nossa! É de todas as mulheres brasileiras!
Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, historiadora, escritora e filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.