Por incrível que possa parecer, foi durante o governo de Humberto Castelo Branco, primeiro presidente do regime da ditadura militar, que o Congresso Nacional estabeleceu o Dia do Folclore, por meio do Decreto nº 56.747, de 17.08.1965.
Considerando a importância crescente dos estudos e das pesquisas do Folclore, em seus aspectos antropológico, social e artístico, inclusive como fator legítimo para o maior conhecimento e mais ampla divulgação da cultura popular brasileira.
Anos mais tarde, em 1995, no VIII Congresso Brasileiro do Folclore, realizado em Salvador, Bahia, um novo conceito para a palavra folclore foi reformulado, quando trouxe modificações àquele apresentado no I Congresso Brasileiro do Folclore, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, em 1951. Portanto, antes do decreto de 1965.
O folclore é o conjunto de criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade.
Sem dúvida, uma data que põe em evidência a importância dos estudos folclóricos e sua riquíssima diversidade de pensar, de sentir e de agir, fruto da união de aspectos das várias culturas componentes da identidade brasileira. Opera também como uma condição de desmascarar mecanismos de poder, do poder colonialista, legitimado pelo Estado e marcado por uma violência epistêmica. Isso quer dizer que a Europa não pode ser mais o ponto de partida e o ponto de chegada. É preciso reconhecer e praticar outros conhecimentos constituídos de formas diferenciadas da modernidade europeia, ainda que pode estar em diálogo com ela.
Luisa Guerra Cavicchioli
Saci Pererê, Curupira, Mula Sem cabeça, Iara, Neguinho d’água, Mulher Apá, Boitatá, Boto, Neguinho do Pastoreio, Cabeça de Cuia, Jurupari, Pé de Garrafa e tantos outros. Saci Pererê aparece aqui sob as impressões visuais de meus amiguinhos, os irmãos Luisa, de 6 anos, e João Pedro, de 10 anos. Saci Pererê, um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro, tem meu destaque porque estou mergulhada na leitura do primeiro livro de Monteiro Lobato, publicado em 1918 – Sacy Pererê: resultado de um inquérito.
João Pedro Guerra Cavicchioli
Saci Pererê é um menino que aparenta ter uns doze anos. Muito magro, negro, travesso e de uma só perna. Fumador de cachimbo, usa uma carapuça vermelha, que lhe dá poderes mágicos. Mas, o inquérito aberto no Jornal O Estado de S. Paulo por Lotado encontrou por este Brasil afora diversos Sacis, com diferentes características físicas, a depender da região. Até Saci de chifres e rabo o dono do Sítio do Pica-pau Amarelo encontrou. Nem sempre de uma única perna. Há relatos que o menino tem sim duas pernas. Tem Saci que protege crianças dos males da floresta. Tem Saci que é sabedor dos poderes das plantas medicinais. Tem Saci abolicionista!
Destaco as produções folcloristas de Silvio Theobaldo Miranda Santos (1904-1971), Pedro Teixeira (1915-2010), Florestan Fernandes (1920-1995), Inezita Barroso (1925-2015), Dunga Rodrigues (1908-2006). Há muitos autores e autoras contribuem para dar vozes aos personagens que encantam, amedrontam e contam tantas histórias que contribuem para a constituição do pensamento brasileiro. Mês que vem tem Halloween. Nananinanão! Mês que vem tem Saci Pererê. Precisamos conhecer a imensidão deste Brasil. Bora começar com A turma do Pererê, série criada por Ziraldo?
Pelas boas ideias, podemos mudar nossa história. Os personagens do folclore brasileiro serão bons companheiros nessa jornada.
Anna Maria Ribeiro Costa é historiadora, escritora e filatelista na temática Povos Indígenas nas Américas.