Tarsilinha me chegou por whatsap, um mimo da amiga Rosana Lia Ravache. Em animação infantil, Tarsilinha conta a história de uma menina de 8 anos que enfrenta muitos desafios para ter de volta as memórias roubadas de sua mãe. As paisagens percorridas pela menina remetem às obras da modernista Tarsila do Amaral (1886-1973), quando se encontra com A Cuca (1924), o sapo, a lagarta e o tucano com corpo de tatu (será?). Escreveu Tarsila sobre A Cuca: “Estou fazendo uns bichos bem brasileiros que têm sido muito apreciados. Agora fiz um que se intitula A Cuca. É um bicho esquisito, no mato com um sapo, um tatu e outro bicho inventado.”
A menina, como na canção de Zeca Baleiro e Zezinho Mutarelli, “Tarsileca, garoteca, Tarsiluça vai Tarsila, leva na mochila coragem sem fim” para cumprir sua missão. A andar, a correr e a voar (mesmo sem ter asas) está preocupada em reencontrar fragmentos de vivências de Tarsila. “Com o sapo e o saci, no vale do sem fim, atrás de uma lagarta, ladra de memória, que rouba nossa história que mora no confim” cantam Zeca e Ná Ozzetti, canção-narrativa que embala a menina.
Além da obra “A Cuca” clipe Tarsilinha traz as cores e formas de diversos trabalhos da modernista que pintou seu primeiro quadro em 1904 – “Sagrado Coração de Jesus”. O clipe é uma viagem à herança nacional deixada pela artista plástica mais famosa da Semana de Arte Moderna, ainda que não estive na capital paulista naqueles dias efervescentes de fevereiro de 1922. Sem faltar, é claro, “Abaporu”, a exaltar o universo de Tarsila de Capivari, voa Tarsileca “debaixo do azul do céu, uma menina brinca, ela abraça a vida, lá vai ela correndo, garoteca, uma moleca, eita mina sabida”.
Tarsinha me trouxe o desejo enorme de ver em animação as artes plásticas mato-grossenses. Pessoas indígenas, negras, na formosura da miscigenação. Dançarinos de Siriri e Cururu. Pescadores, ribeirinhos, ceramistas. Cerrado, floresta, peixes, onças, pássaros que recitam poesias de Manoel de Barros. Expressões das artes plásticas, gentes, bichos e cenários têm de sobra. Desejo de ver as manifestações artísticas mato-grossenses na coleção “Arte e Sociedade no Brasil”, de Aracy Amaral e Andre Toral.