Se um Bolsonarista entusiasta inscrever-se em um grupo social de seguidores do Lula, ficará horrorizado e indignado com as leviandades, invenções, calúnias, xingamentos, acusações e mentiras que ali se divulgam sobre o Presidente.
Da mesma forma, se um Lulista infiltrar-se entre Bolsonaristas, vai surtar com as maldades, meias-verdades, incriminações, acusações e mentiras ali disseminadas sobre o ex-Presidente.
Interessante é que os grupos, independentemente da semelhança das armas que usam, estão totalmente propensos a acreditar nas mentiras que desonram o adversário e a renegar as que desmerecem seu líder. Ou, escrito com outras palavras: dizem-se totalmente diferentes, mas o fanatismo os nivela e iguala.
Isso se chama viés de confirmação, que é a tendência das pessoas prestarem mais atenção nos dados que reforçam suas crenças do que aos que as negam. Há maior disposição de aceitar as mentiras convenientes, por mais absurdas que elas sejam, do que as verdades desfavoráveis, ainda que pertinentes.
E estão tão determinados a abraça-las (as ideias) sem nenhum pensamento crítico, que quaisquer argumentos lógicos contrários são imediatamente desprezados. Ou, como diz uma Lei de Murphy: “não importa quantas vezes uma mentira seja demonstrada, sempre haverá quem creia nela”.
Aqui entram as ideias conspiracionistas, que não são novidades, mas que ganharam importância, velocidade e abrangência descomunais com a internet. Juntamente com estas crescem, nestes dias de pandemia, a divulgação de produtos milagrosos, descobertos por um anônimo qualquer, que “viraliza” de repente.
Se a falta de educação formal impede ou dificulta a criação de filtros cognitivos, seria lícito pensar que os incultos estariam mais vulneráveis diante desta avalanche de desinformação que prospera na internet.
Mas o que se vê, além deste grupo, são indivíduos, às vezes com formação universitária, totalmente idiotizados pelo fanatismo ideológico, distribuídos à direita e à esquerda. Estes absorvem, confirmam e divulgam informações tão infantis que ficamos com vergonha por eles.
Alguns afirmam que vacinas provocam autismo e que a da Covid traz um micro chip através do qual seremos monitorados por potências estrangeiras, mancomunadas entre si para dominar o Brasil.
Nos Estados Unidos tem um grupo de extrema direita (QAnon) que diz existir uma Cabala secreta de adoradores de satanás, pedófilos e canibais que buscam dominar os poderes do mundo. Entre seus líderes estariam Obama, Hillary e o Papa.
Aqui muitos alardeiam que grupos econômicos poderosos buscam convencer as pessoas que remédios baratos como a Cloroquina não são eficazes, para vender seus caros produtos. Tem ainda, acreditem, pessoas divulgando que cebola congelada e ralada cura todas as doenças, covid entre elas.
Para os que quiserem se livrar destes obscurantismos, há uma forma barata e eficiente: reduzam a 5% o tempo que gastam com whatsapp e outros “que tais” e o aplique na leitura de jornais e sites respeitados.
Espere, entretanto, efeitos colaterais: primeiro, o uso continuado desse recurso pode abalar sua fé na inteligência do Bolsonaro ou na inocência do Lula. Segundo, variando a leitura é possível entender que a imprensa não é, necessariamente, de esquerda ou de direita, tanto que Bolsonaro e Lula a odeiam, igualmente. Terceiro, ficará claro que a Covid não poderia ser evitada no Brasil, mas que foi o descaso que deu a ela a chance de transformar-se em catástrofe.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor