Opinião

Bagagem

Semana passada, em estudos sobre Ego-História, deparei-me com uma lembrança inesperada: minha bagagem. Minha bagagem para uma grande viagem: do Rio de Janeiro para a aldeia Nambiquara, com o objetivo de implantar um programa experimental de educação escolar indígena para a etnia Nambiquara, em Mato Grosso. Era o ano de 1982.

Os fragmentos desse momento me chegaram embaçados. Mas, recordo-me, que decisão difícil – selecionar os objetos necessários à vida da aldeia, que nem mesmo conhecia. E o espaço pequeno da bagagem a me confundir. O que levaria precisava ser de suma importância. E o que era de suma importância? Eu não sabia…

Hoje, a dúvida do que levar na bagagem me levou à Bagagem de Adélia Prado, ainda que nossas viagens tivessem razões distintas. A escritora mineira declarou que em sua bagagem entraria “aquilo que não posso deixar ou esquecer em casa”, ou seja, “a própria poesia”. Eu? Levei o que precisava em minha trajetória, fragmentos constituídos até aquele momento antes da partida, evitando a sensação de estar deixando tudo para trás, num passe de mágica, como se tivesse selecionado tudo e desse um clique na tecla DEL, cuja função é apagar elementos. Separei objetos que não se distanciassem do meu eu.

Sem a mínima noção, arrumar minha bagagem naqueles dias que têm quase quatro décadas, me colocou no estado de minimalismo, um estilo de vida que elimina os excessos e mantém o que é essencial. Difícil. E o que era essencial para não me distanciar de mim mesma?

Distanciada da preparação da aula, peguei-me num esforço de lembrar quais livros viajaram comigo para a aldeia Nambiquara, em Mato Grosso. Percorri minhas estantes, quase que livro por livro, acariciando suas lombadas numa tentativa quase em vão de lembrar de minhas escolhas.

Estavam na bagagem Ciro Flamarion Cardoso e Héctor Pérez Brignoli, Roberto Cardoso de Oliveira, Edgar Roquette-Pinto, Graciliano Ramos, José Maria Firpo, Jean Baptiste Debret, Gilberto Freyre, Marc Bloch, Dostoievski, Edson Martins. Eram muitos…

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