Pais de crianças menores de cinco anos, cujas escolas reabriram após um ano de inatividade, ficaram indignados com a atitude de alguns professores que, instruídos por seus sindicatos, recusaram-se a obedecer a ordem de cancelamento do feriado de carnaval. Para eles ficou claro que seus filhos não poderão contar com nenhum esforço ou boa vontade dos docentes na recuperação do tempo perdido durante a pandemia.
Se depois de um ano parados – os pais argumentam – eles exigem mais folgas, é porque a vaca foi pro brejo mesmo. Parece que onze meses não foram suficientes para aliviar o estresse de que os professores sempre se queixam.
Os sindicatos da categoria têm se manifestado contra a reabertura das escolas e ameaçam entrar em greve se não forem ouvidos. Não sei opinar sobre a volta às aulas neste momento da pandemia, mas uma coisa parece clara: não deveria ser dado aos professores o privilégio da decidir sobre a retomada das aulas, afinal eles são os principais interessados, e não convém que caiba a qualquer das partes o direito de julgar um conflito. Aliás, eles (os professores) estão muito confortáveis longe do trabalho, principalmente os da rede pública que recebem os salários integralmente.
Os trabalhadores da saúde, muito mais expostos à covid que qualquer professor, não puderam escolher se trabalhariam ou não no combate à pandemia. Da mesma forma, aos da iniciativa privada, que pela natureza do serviço, não puderam aderir ao home office, não foi estendida a possibilidade de se ausentarem do serviço.
Não sei quais têm sido os argumentos usados para adiar a inevitável reabertura das escolas, mas suspeito que utilizam como principal desculpa a saúde dos estudantes. É sempre assim, passando por defensores dos interesses dos alunos, fica mais fácil disfarçar os próprios.
Para camuflar interesses particulares os professores são mestres – sem trocadilho. Basta ver as extensas reivindicações que colocam nas pautas de greves, quando no fundo só buscam aumentar os benefícios pessoais. Nas pautas enumeram uma série de exigências, muitas referindo à melhorias do ensino e em favor dos alunos, para dar um verniz altruísta nas pretensões salariais.
Será que os professores que estão tão preocupados com o contágio nas salas de aula, durante este ano de pandemia não participaram de nenhuma festa? Não foram ao shopping? Não se reuniram com os amigos? Não confraternizaram no Natal e no Ano Novo? Muitos por certo viajaram, outros frequentaram restaurantes. Alguns se aglomeraram em casas noturnas e baladas. Isto é, para divertir vale o risco, mas para trabalhar, não compensa.
.
Se pudesse me dirigir às autoridades que decidirão essa questão aqui no Estado, pediria que não temessem as ameaças de greve dos professores e que não levem em conta a “nobreza” de suas pautas. Elas disfarçam os verdadeiros interesses da categoria, defendidos a unhas e dentes pelos sindicatos.
Os julgamentos deles contra a abertura das escolas podem estar contaminados. Afinal é difícil mesmo substituir o confortável sofá de onde trocam mensagens de celular, enquanto assistem a filmes na Netflix, pelas duras cadeiras das salas de aula.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor