Opinião

Yemanjá

Por: CRISTIAN SIQUEIRA

 

“Ògùn ó Yemonja, Ògùn ó Yemonja e lódò e lódò.

Sà wè a Ògùn ó Yemonja.

Ìyá àwa sé wè, Yemonja dò ó rere Yemonja.

Ìyá àwa sé wè, Yemonja dò ó rere Yemonja”

(O rio Ògùn é de Iemanjá, o rio Ògùn é de Iemanjá. 

Ela tem o rio, tem o rio que escolhemos para nos banharmos,

o rio Ògùn é de Iemanjá, mãe, vamos nos banhar,

Iemanjá que o rio esteja bom, Iemanjá)

Yemọjá é o nome africano como a bela deusa das águas é saudada entre seu povo. Seu nome sintetiza seu maior mistério: a mãe cujos filhos são peixes.

Poucos sabem, mas, na África as divindades são cultuadas por regiões, cidades, e famílias, de um modo tal que vê-las todas juntas como vemos no Brasil é algo particularmente difícil de ocorrer por lá. Dessa forma Yemanjá era cultuada muito especificamente pelo povo Egbá, um subgrupo de iorubas da Nigéria que possui uma relação próxima com o povo de Abeokutá, terra de Ogun, filho de Yemanjá, e cidade onde hoje seu culto é estabelecido.

A maravilhosa deusa das águas, como é cultuada no Brasil, é também da fertilidade, associada originalmente aos rios como acontece com todas as outras divindades femininas. Em Ifé, a Meca dos iorubas, se diz que é filha de Olokun, esse sim, quase que desconhecido no Brasil. Olokun é o Senhor Soberano do mar e a ligação de Yemanjá com as águas desse é feita por intermédio de seu pai, que reina fulgurante em seu reino infinito de águas salgadas. Sem sombra de dúvidas, e com todo respeito, o mar brasileiro é sem dúvidas de “Iaiá”, uma das formas carinhosas de tratar a Rainha, é pra lá que uma grandíssima quantidade de oferendas são direcionadas nos dias 02/02 em grande parte da região litorânea do Brasil. Comidas, flores, incensos, perfumes, joias, entre outras coisas são levadas ás praias com o intuito de saudar Yemanjá. Não sei se ela se alegra com o resultado material da grande quantidade de “oferendas” deixadas, ou jogadas, em seu reino natural, mas, está lá…

O mistério de Yemanjá é o do poder gerador conferido exclusivamente á mulher. Esse poder se manifesta nas águas, todas elas, que mantem e preservam a vida em todas as suas manifestações. Seria impossível falar de fertilidade sem mencionar o poder hídrico, por outro lado, é impossível falar de Yemanjá sem mencionar seu arquétipo de jovem mãe guerreira e sedutora afinal, conta-nos a tradição africana que a beleza de Yemanjá era tamanha que até mesmo seu filho, Ogun, por ela apaixonou-se chegando a tentar domina-la.

As filhas de Yemanjá são reconhecidas a distância: beleza delicada, olhar afetivo, movimentos corporais envolventes e desenhados, tais quais as ondas do mar, e, muito em especial, defensoras do poder da mulher. Dentro de cada filha de Yemanjá está plantada uma pérola cujo brilho a faz perceber diariamente o poder da mulher, todos os poderes, de sedução, de geração, de garra, de enfrentamento, de luta, de amor, de paixão, de cura, de força, de espiritualidade, e todos os outros mais; isso por que é de Yemanjá a capacidade de mostrar para cada um seu real valor. Isso faz parte do arquétipo da mãe, aquela que sempre nos mostra o poder oculto dentro de nós, isso faz parte de Iaiá.

A melhor forma de se agradar uma mãe é agradar seus filhos; o ditado é velho, mas sua verdade é sempre atual. A alguns anos atrás a querida sacerdotisa Stella de Oxossi lançou uma campanha em Salvador buscando levar os fieis a refletirem sobre a essência real de uma oferenda na busca de faze-los perceber que sujar o santuário natural é bem pior que qualquer outra coisa que possa ser feita, ou não, ás divindades. Essa reflexão é necessária ainda hoje, pois, não raro encontramos despachos e oferendas que mais ofendem que agradam as forças naturais e espirituais dada a grave agressão ao reino natural. Existem outras formas de se oferendar Yemanjá, afinal, muitos de seus filhos estão abandonadas pela nossa cidade em busca de uma roupa, comida, bebida, ou atenção. Não é preciso ir muito longe, certamente em nossa família, em nossas relações, em nossos serviços, existem filhos desamparados que necessitam sentir o afago materno que a ninguém pode faltar. Seja Yemanjá para um de seus muitos filhos em seu dia, em sua homenagem. Aproxime-se dos abandonados, desamparados, solitários, carentes, desesperados, e faça do carinho, do amor, do amparo, flores a serem entregues a Rainha do Mar. As flores, os barquinhos, velas, vão se acabar, mas a força do afeto materno dirigido a um filho necessitado não; nem a mais profunda água poderá esconder ou deteriorar…

                                                                                                                                        Odoyá Yemanjá !

 

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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