No ano em que completa meio século de funcionamento, o histórico 9º Batalhão de Engenharia de Construção (9º BEC) de Cuiabá, que foi responsável pela construção da BR-163, será transferido para Sinop.
Apesar do sentimento de nostalgia que o batalhão desperta, historiadores – e até mesmo quem tem relações afetivas com a unidade – apoiam a decisão pelo ponto de vista da praticidade, pois acreditam que trará benefícios para a região Norte.
Por meio de nota, o Exército disse que a transferência é definitiva e tem como objetivo facilitar os trabalhos no Norte de forma estratégica e logística.
“Essa transferência vai ao encontro do que preconiza a Estratégia Nacional de Defesa e a Concepção Estratégica do Exército, ao permitir maior capacidade operacional à Força Terrestre, possibilitando reforçar a sua presença na área do Comando Militar do Oeste, especialmente na mesorregião Norte mato-grossense”, justificou o Exército em nota.
O destino dos maquinários, equipamentos e viaturas ainda deve ser analisado pelo Estado-Maior do Exército depois da apresentação da proposta por parte da gerência do projeto.
O pessoal de carreira e os temporários devem ser realocados, segundo o Exército.
Junto com a mudança da sede, todo o acervo do patrimônio histórico-cultural do batalhão também será enviado a Sinop.
O Exército ainda não definiu qual destinação dará ao imóvel, que fica na Avenida Fernando Correa, na região do Coxipó.
Vai deixar saudades
O médico José Meirelles Filho, filho do coronel José Meirelles, que coordenou a construção da BR-163 e esteve à frente do 9º BEC a partir de sua criação em 1971, diz que a família vai sentir saudades, mas tem esperanças de que a mudança seja benéfica para o desenvolvimento do Estado.
“Acredito que Sinop, Alta Floresta, aquela região toda do Norte, precisam fomentar obras pelo Batalhão de Engenharia. Ele já cumpriu o objetivo que tinha para Cuiabá. A gente tem um carinho muito grande, mas acho que será bom para o Estado”, afirmou o médico.
O primeiro comandante do 9° BEC foi o coronel Antônio Paranhos, substituído, nesse mesmo ano, pelo coronel José Meirelles.
O historiador Clarindo Alves de Castro e o sociólogo Edson Benedito Rondon Filho, ambos policiais militares, também veem a necessidade de um batalhão de engenharia no Nortão. Porém, tendo em vista a importância histórica, avaliam que seria melhor se o 9º BEC continuasse na Capital.
“Devido ao valor histórico do 9º BEC, cujo primeiro comandante efetivo foi prefeito de Cuiabá, e ainda, o seu nome homenageia o general José Vieira Couto de Magalhães, que foi presidente da então província de Mato Grosso, preferiria que essa unidade permanecesse em Cuiabá”, pontuaram em mensagem conjunta enviada ao MidiaNews.
“Convém destacar que o 9° BEC continuará no Estado, desenvolvendo a sua missão de executar serviços de engenharia e ações subsidiárias, contribuindo para o desenvolvimento regional”, completaram os militares.
O historiador Aníbal Alencastro concorda que a transferência pode auxiliar no desenvolvimento de Mato Grosso.
“Achei interessante ocupar essa região. Se eles forem situar ali na região de Sinop, é bem cômodo. Acho que é muito bom”, afirmou.
Parte da história
Segundo Alencastro, o 9º BEC surgiu da ocupação de um prédio que pertencia ao Ministério da Educação e era usado como centro de formação de professores.
Os militares, no auge da Ditadura Militar, no início da década de 70, se instalaram no imóvel e fundaram o Batalhão de Engenharia de Construção, que hoje é subordinado ao 3º Grupamento de Engenharia, em Campo Grande (MS).
Aníbal Alencastro explicou que logo o 9º BEC, majoritariamente composto por militares da região Sul do País, começou a organizar a construção da BR-163, como parte do plano de obras de infraestrutura no Brasil.
De acordo com Alencastro, que foi contemporâneo à construção da BR-163, na época existia grande necessidade de uma rodovia que ligasse Cuiabá a Santarém (PA).
“Via-se um ideal no nosso povo de fazer essa rodovia para escoar a nossa agricultura. Esse projeto foi muito importante para Matou Grosso", apontou o historiador.
Além disso, a construção da rodovia federal também trouxe maquinários modernos para a Capital, sendo lembrado como um símbolo de avanço.
“Vieram uns tratores que a gente nunca tinha visto em Cuiabá. Eram tratores enormes que faziam a terraplanagem, carregavam o cascalho. Eram espetaculares”.
Apesar de todos os pontos positivos que a BR-163 trouxe, a construção também pesou para os militares que estavam na linha de frente. De acordo com Castro e Rondon Filho, 32 mortes foram registradas pelo Exército.
“Esse empreendimento visionário cobrou muito dos funcionários que desbravaram essa região inóspita e foi marcado por vários obstáculos, como doenças silvestres e as dificuldades geográficas advindas das três grandes bacias hidrográficas formadas por rios caudalosos, a exemplo do Teles Pires, Tapajós, Xingu e Amazonas, o que dificultou o trabalho logístico”.