Opinião

Culto à ancestralidade famílias Ibrahim-Kouri

Crônica escrita a quatro mãos Natalino Gomes de Souza Filho e Anna Maria Ribeiro Costa

Sou neto de um libanês que chegou no Brasil sozinho em 1923, aos 17 anos de idade, em busca de um tio (também libanês) vindo do Líbano. No nascimento meu avô recebeu o nome de Maroun Antonius El Khoury e seu tio Joseph Hanna (meu tio-bisavô) mas, ao chegarem no Brasil, receberam os nomes de Maron Kouri e José João Ibrahim, respectivamente.

Especula-se que José João teria vindo para o Brasil no final ou logo após a 1ª Guerra Mundial e, como a sua irmã Martha (mãe do meu avô, minha bisavó) ficara viúva e com muitos filhos, pediu que Maron viesse. Na mesma época, um dos irmãos do meu avô foi morar na Austrália, onde recebeu o nome Sahade Coorey. Maron nunca mais deixou o Brasil, nem a passeio, e por duas vezes recebeu a visita do irmão Sahade (1975 e 1982), único parente que reviu desde que veio da sua terra natal.

Para encurtar a história, em determinado momento os descendentes de Maron e de José João perderam quase que totalmente o contato. Eu e meu irmão (Marilário) sempre mante” Carlos Eduardo Ibrahim (carinhosamente chamados de Dudu), ainda fruto das lembranças da adolescência e juventude; e, outros parentes mantinham algum contato de forma isolada e raramente, mas nada que reunisse os “brimos” em família.

Agora em agosto de 2020, um dos primos que moram na Austrália (John Coorey) casou uma filha (Anycie Coorey, que tornou-se Sra. Anycie Barakat). Diante da pandemia, eles ficaram impossibilitados de receber muitos convidados e nós de viajar até a Austrália. Então eles nos enviaram o convite para assistir “on line” a cerimônia e a festa de casamento. Nossa, que emoção!!! Como fiquei feliz por estar "presente" ainda que distante. Foi uma sensação indescritível!!!

Embalado por essa demonstração de amor, de respeito e de carinho que o primo John e sua família nos brindou, especialmente a Anycie e seu marido, além de externar a eles meus sinceros e emocionados agradecimentos pela oportunidade de estarmos “juntos” ainda que distantes, resolvi retomar a pesquisa sobre a chegada de José João e Maron Kouri ao Brasil objetivando reaproximar os descendentes de ambos. Por razões óbvias, comecei pelos mais próximos e Dudu me deu o contato de outro “brimo”, o Joe Penna, que está nos Estados Unidos e me passou dados muito relevantes, mas ainda não tinha encontrado o que eu queria (notícias dos filhos de José João, que seriam primos diretos do meu avô Maron).

Alguma coisa me dizia para eu buscar os mais idosos então e minha tia “Mariza” (no auge dos seus 87 anos, com uma lucidez invejável), com a colaboração da sua filha Sandra (minha prima e madrinha) ajudou muito com os nomes e as referências de memória dos últimos contatos.

E eu prosseguia na minha saga!

Foi numa madrugada de setembro, depois de milhares de buscas pelas diversas variantes de nomes possíveis que eu já tinha conhecimento, resolvi buscar pelo nome dele, José João Ibrahim, o que chegara aqui em data mais remota, o que seria o mais idoso (se já não fosse falecido). Foi então que encontrei uma crônica que continha esse nome “José João Ibrahim” no bojo do texto, onde a autora narrava a aflição de uma descendente de libanês com os recentes acontecimentos no Líbano. Sim! Achei! Parecia inacreditável, mas era real. Enviei uma mensagem para o jornal onde fora publicada a crônica contando a minha saga e no dia seguinte ela fez contato. Era uma bisneta de José João. O nome dela? Anna Maria Ribeiro Costa, e ela agora vai prosseguir com a história.

Em agosto, ver pela televisão a cidade de Beirute em chamas e o desespero de sua população me levou imediatamente a minha ancestralidade, ao meu bisavô José João Ibrahim, avô de meu pai Danton. Para além da destruição causada por nitrato de amônio, as enormes bolas de fogo e colunas de fumaça causadas pelas explosões dirigiram meu pensamento aos meus ancestrais nativos daquela cidade que nunca os conheci. Diante à televisão, em vão, observei atentamente as fisionomias de mulheres e homens sobreviventes, a me perguntar se algum deles seria um parente distante.

Os dias se passaram… Mas, as imagens de Beirute sob os escombros e as fisionomias da pessoas abriram uma pasta com os poucos papéis deixados por papai. Papéis que reuniam informações sobre a genealogia da família Ibrahim. Ainda que escassos, são fortes elos que me ligam aos parentes libaneses, uma de minhas raízes.

Estarrecida com os acontecimentos que ocuparam os noticiários por dias e dias, resolvi escrever uma crônica, publicada em 6 de agosto deste ano. Nasceu um texto afetivo. Um texto que cada palavra suplicava um encontro, a formar frases em entrelinhas saudosas. Um reconto. E no abrir da Primavera, em 22 de setembro, Leda Toledo, do Circuito Mato Grosso, proporcionou um histórico encontro entre as famílias Ibrahim e Kouri.

No ano em que a pandemia causada pelo Covid-19 afetou tantas e tantas vidas de formas diversas, o reencontro das famílias Ibrahim e Kouri foi, sem dúvida, um afago aos nossos corações. Um grupo no “whatsapp” foi aberto. Todos os dias trocamos mensagens: informações e fotografias de nossas famílias.  Aguardamos a calmaria para um encontro familiar em Marechal Floriano, Espírito Santo, onde moram nossos familiares. Vozes em festa! Culto à ancestralidade!

Feliz Natal!

 

 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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