“Vô contá um trem pro ceis” – como dizem meus conterrâneos mineiros, lá da saudosa São João da Mata: “envelhecer é uma merda. Meu conselho para os jovens é que não façam essa besteira”.
Nestes dias de eleição nós os velhos sofremos, ouvindo a mesma lengalenga vazia, o mesmo palavrório repetido há décadas com ares de novidade. Os mesmos chavões, as mesmas expressões batidas que outros políticos já falavam e repetiam há cinquenta anos.
Basta ouvir os candidatos discursar para saber se são políticos profissionais. Se eles usarem uma ou mais das palavras os expressões abaixo, pode ter certeza: “toma-lá-dá-cá”, “casuísmos”, factoide”, “programático”, “rasgar a constituição”, “golpe”, “legado”, “inverdade”, “desserviço”, “terminar em pizza”.
E ainda: “passar o país à limpo”, “afogadilho”, “musculatura política”, “desapego ao poder””, “campanha propositiva”, “sagrado direito do voto”, “o povo é sábio”, “declinar”. “o povo no poder” e o indefectível “estado democrático de direito”.
Deixei por último o famoso “voto consciente” porque ele é caro aos políticos e também aos eleitores. Tanto pessoas como grupos sociais proclamam sua consciência eleitoral e apontam outros eleitores ou classes, como negociadores do voto.
Um dos principais discursos dos mais abastados é vociferar contra os que recebem benefícios do governo, como o bolsa família por exemplo, dizendo que eles trocam o voto por uma cesta básica ou por uma vaga na creche mais próxima.
Mas, a rigor, quase todos trocam votos por favores, por mais estranho que essa afirmação pareça. O funcionário público escolhe o deputado que defendeu o seu aumento salarial e no governador que garantiu a Recomposição Geral Anual. A RGA do funcionário público equivale à cesta básica do proletário. Mas a maioria condena muito mais os beneficiários do bolsa família e do auxílio emergencial, a quem os marxistas chamam de lumpemproletariado.
E os empresários de todos os ramos: agronegócio, indústria, comércio, prestação de serviços? Estariam fora dessa turma que troca favores por votos? Que nada! Talvez sejam ainda piores que os citados acima, porque tem poder de fogo para fazer lobby e patrocinar candidaturas. Assim buscam isenções tributárias muitas vezes desnecessárias e outros batalham com seus deputados, para prorrogar a desoneração da folha de pagamento, garantindo que estão pensando somente na manutenção dos empregos.
Aliás, essa cantilena dos empresários quando apresentam seus projetos de financiamentos ou de isenções fiscais, garantindo que estão investindo para oferecerem mais empregos ao povo é uma enganação retórica, quase obrigatória nos documentos oficiais. No máximo a oferta de empregos é um efeito colateral bem-vindo, nunca o objetivo do investimento.
“Por isso eu minto, e ela em falso jura; e sentimos lisonja na impostura”. Como escreveu o imortal William Shakespeare. O político mente dizendo que não compra voto, mesmo os dos que ficam agitando bandeiras nas eleições. O funcionalismo público afirma que pessoal bem pago oferece melhor serviço ao povo, por isso exigem a RGA; e os empresários garantem que buscam estímulos fiscais e a desoneração da folha, somente para manter ou aumentar os empregos.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor