No último domingo (15) foram eleitos quatro vereadores negros em Cuiabá, o dobro do número das últimas eleições municipais, que tinham apenas dois negros na Câmara Municipal: Juca do Guaraná (MDB) e Wilson Kero Kero (Podemos). Em Várzea Grande, o número permaneceu: apenas um vereador eleito é negro.
De acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os quatro candidatos negros que farão parte da Câmara Municipal de Cuiabá em 2021 são: Eduardo Magalhães (Republicanos), Edna Sampaio (PT), Pastor Jeferson Siqueira (PSD) e Juca do Guaraná (MDB).
Juca do Guaraná, que foi reeleito, fala que esse é um avanço no nível de representatividade. "Em uma sociedade onde mais da metade da população é negra, precisamos que essa realidade seja compatível na política para a promoção da igualdade racial", afirma.
O presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, Manoel Silva, explica a importância das pessoas negras ocuparem cada vez mais os espaços políticos.
"Nós somos a maioria na população, mas devemos ser maioria nos espaços de representatividade também. Então é importante termos votados em pessoas que tem compromisso com a causa e que realmente nos representa. Porque não ser negro, tem que nos representar, representar a causa", diz.
Manoel explica que pessoas engajadas podem lutar mais pelos direitos das minorias.
"Os negros conhecem nossa luta e nossa trajetória. Isso facilita o entendimento deles para que eles lutem por políticas públicas que sejam atendidas e executadas para nós", afirma.
Em Várzea Grande, apenas um vereador eleito é negro: Paulo Cézar da Silva Oliveira. Na legislatura anterior, o número era o mesmo. O único vereador autodeclarado preto era Joaquim Nunes.
Prefeitos negros
Dos 140 candidatos a prefeito eleitos em Mato Grosso no domingo (15), só um é preto, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Trata-se de Moisés dos Santos, do DEM, que foi reeleito para o cargo em Juscimeira, a 164 km da capital.
Os outros se declaram brancos, pardos e amarelos. O estado tem 141 municípios, mas, como Cuiabá tem segundo turno, os candidatos não fazem parte do levantamento.
A maioria dos eleitos para comandar as prefeituras a partir de janeiro de 2021 são brancos, representada por 63,82%. São 90 autodeclarados brancos.
Já o percentual de eleitos negros, que é a soma de pardos e pretos, no estado é de 35,46%. Ao todo, 49 são pardos, que junto com o prefeito de Juscimeira, somam os 50 negros eleitos. Apenas um declarou ser de cor amarela.
O cenário mostra que em Mato Grosso o número de negros na prefeitura segue a média nacional. No país, 32,1% dos prefeitos eleitos são negros, ou seja, 3 a cada 10 eleitos são negros.
O número não condiz com o percentual da população negra no estado, que é de 60%. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 3.035.122 mato-grossenses, 1.820.597 se autodeclararam pretos e pardos.
Deputados estaduais
Apenas seis dos deputados estaduais que assumiram mandatos nos últimos 20 anos na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) são negros. Atualmente, o único deputado negro no parlamento é Henrique Lopes, que entrou como suplente.
O levantamento foi feito pelo Instituto Memória da ALMT leva em consideração deputados eleitos e suplentes que assumiram o cargo por algum período após licença dos titulares.
De acordo com o levantamento, na legislatura de 2003 a 2007, o único deputado negro era Carlos Carlão Nascimento.
Na seguinte, de 2007 a 2011, estavam a deputada Vilma Moreira, que foi a primeira deputada negra a ocupar uma cadeira no parlamento estadual, e o deputado José Domingos Fraga, que permaneceu durante a 17ª legislatura, de 2011 a 2015.
Em sequência, também participaram os deputados Silvano Amaral e Wancley Carvalho.
O deputado Henrique Lopes destaca a importância de poder representar a comunidade negra e levantar debates acerca de suas demandas.
Como exemplo, o parlamentar cita a necessidade de cumprimento correto das políticas de cotas, o fim do extermínio da juventude negra, a inclusão do negro no mercado de trabalho, o combate às desigualdades raciais, e o cumprimento, pelas escolas, da Lei nº 10.639, que trata da inclusão da matriz africana nos currículos escolares.