O que parece ser uma boa opção de vida para muitos jovens, ao serem “batizados” na facção Comando Vermelho (CV), acaba virando uma opção de morte. O sonho de obter poder, riqueza e proteção não condiz com os objetivos da facção, que quer apenas aumentar o poderio para ganhar mais dinheiro. Com isso, “descarta” os membros tão logo deixem de contribuir ou cumprir as leis impostas por ela.
As ações da facção, que hoje predomina em Mato Grosso, são alvos de monitoramento constante da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), assegura o delegado Flávio Stringueta. Destaca que em sua maioria, os alvos de punições da facção com “salves” ou mesmo decretos de morte pelos “disciplinas” são os próprios faccionados que um dia esperavam ter sucesso ao ingressar na vida criminosa.
Cita um exemplo recente investigado pela unidade em que uma teleconferência, realizada pelo “conselho” da facção, decidiu pela morte de 2 integrantes. Um deles, inclusive, participava do evento. Apesar de ter apresentado sua defesa, não foi poupado da execução sumária.
Em relação captação de novos membros, o principal objetivo do CV-MT é ampliar sua arrecadação, explica Stringueta, já que todos são obrigados a pagar as “mensalidades”. Para os traficantes o montante significa a autorização ou não para vender a droga. Se o faccionado não tem o dinheiro para a mensalidade, paga com trabalho, que consiste em atuar em “salves” ou mesmo homicídios, a mando da facção. Outro propósito é de desestimular a vinda ou implantação de organização criminosa concorrente, impondo-se pela maioria.
O ingresso que permite o “batismo” no CV só acontece por meio da indicação de um “padrinho”, que geralmente é um criminoso experiente atuando há mais tempo na facção.
O titular da GCCO classifica o CV de Mato Grosso como uma “franquia” do Comando Vermelho que surgiu no Rio de Janeiro, e que difere muito da que se originou nos presídios de nosso estado a partir de 2013. “Perto do CV do Rio, podemos dizer que em Mato Grosso temos a Comédia Vermelha. Acredito que as lideranças da facção do sudeste fiquem envergonhadas pela atuação da franquia daqui”.
Salienta que a Segurança Pública do estado, ao contrário do que ocorreu no Rio de Janeiro, não perdeu o controle para as facções que se impõem como poder paralelo. O monitoramento constante, por meio do setor de inteligência da polícia tem atacado as células da facção, com operações integradas na Capital e regiões mais distantes.