Mais de 9,8 mil processos de acidentes de trânsito “arrastam” em Mato Grosso. Os números são do Tribunal de Justiça e referem-se apenas aos casos de primeira instância. Do total tramitam em Cuiabá 5.192 ações e em Várzea Grande 616. Familiares de vítimas do trânsito lamentam a falta de punição para os crimes, processos que demoram anos e penas baixas.
No dia 13 de outubro, presidente Jair Bolsonaro sancionou projeto de lei 3267/19, que altera o Código de Trânsito Brasileiro. As novas regras, que passam a valer em 180 dias, trazem mudanças dobrando a quantidade de pontos na carteira e aumentando validade da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Receio de quem conhece a realidade do trânsito é que as alterações aumentem a impunidade.
Não poder abraçar o pai, as ausências em datas comemorativas são realidades com as quais Francinilda da Silva Lúcio tem que conviver diariamente. Ela perdeu o pai, o verdureiro Francisco Lúcio Maio, em um acidente na Miguel Sutil no dia 14 de abril de 2018. O homem retornava para casa com carrinho de verduras após um dia de trabalho e, por volta das 19h30, foi atropelado pela médica Letícia Bortolini.
“É uma sensação de incapacidade, tudo é demorado, tudo é muito lento. O mais triste é tratar de uma pessoa que tinha toda a capacidade de parar para dar assistência, para chamar o Samu, dar talvez os primeiros atendimentos. Ela fez o juramento de salvar vidas e não fez o que deveria”
Mais de 2 anos após a morte de Francisco, ainda não houve audiência sobre o caso. No Conselho Regional de Medicina, o cadastro da médica continua regular, atuando normalmente. A médica responde por homicídio doloso (quando não há intenção de matar), omissão de socorro, embriaguez ao volante, e por se afastar do local do acidente fugindo da responsabilidade.
Francinilda lamenta o fato de que a Justiça não seja igual para todos. “Sempre vou ter a esperança, enquanto eu puder ir atrás eu vou. Por mais que falem que não vai dar em nada, ainda prefiro acreditar que vai”, diz.
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