Cidade sem futuro
Quem abriu a janela em Cuiabá, nesse primeiro domingo de outubro, sabe que falhamos feio. Uma falha sistêmica. Uma falha com efeito dominó. Uma falha perpétua: Falhamos ao não cuidar do lugar em que vivemos. Falhamos ao não deixarmos um lugar melhor para nossos filhos.
Fa-lha-mos.
No plural mesmo. Falhamos ao perder a conta de quantos dias estamos cobertos pela fumaça. Falhamos ao não escutar os pantaneiros. Falhamos ao não ter fiscalização. Falhamos ao não ter infraestrutura. Falhamos ao demorar a pedir ajuda. Falhamos ao demorar a mandar ajuda. Falhamos por ter deixado seu vizinho cortar aquela árvore, por não plantar aquela semente, falhamos ao defender o meio ambiente através de tuítes, ao trocar relacionamentos reais por likes: A sua live falando sobre os incêndios do pantanal não vai apagar o incêndio, sorry.
Falhamos.
Não só com a natureza, que vai deixar Cuiabá inabitável, em menos de 10 anos. Falhamos ao privilegiar o consumo e não a cultura. Falhamos por transformar a ignorância numa virtude. Aliás, por conta do dinheiro, não acertamos uma. Oitocentas vidas se perdem em média, por dia, e retomamos a vida normal. Resultado de uma falha de senso crítico. Senso, que não existe. Falhamos ao eleger governantes que estão cagando pra natureza, nem imaginam o que seja nossa cultura, falhamos ao eleger empresários para o ramo político, aumentando assim seus monopólios, falhamos ao achar que o agro é vida e não destruição.
Falhamos!
Falhamos como animais racionais, como seres humanos, como pais, como filhos. Mas ainda sobra um sopro de tempo. Lembro que papai sempre falava que meu avô Edvino, alemão do jeito que era, lhe dizia- “ Escutem Churchill, O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo. Não por acaso, ganharam a guerra”. O grande problema vovô, que dessa vez, em vez de entusiasmo, poderemos estar perdendo a vida.