Opinião

Líbano em chamas: Um culto à Ancestralidade

Minha ancestralidade libanesa está no lado paterno. José João Ibrahim, meu bisavô, nascido em Kiefar Sueb, deixou o Líbano na companhia de Mário, seu sobrinho, para morar no Brasil, em busca de melhores condições de vida. No Espírito Santo, em Santo Eduardo, hoje Rio de Janeiro, José João, junto com um sócio, foi proprietário de uma torrefação, dedicando-se ao comércio de café; Mário tornou-se comerciante, dono de um armazém de secos e molhados.

Encravada em Campos dos Goytacazes, às margens do rio Itabapoana, está Santo Eduardo, hoje distrito de Campos, região habitada por índios “Goitacás, Guarulhos e Puris”. Em Santo Eduardo, José João Ibrahim casou-se com Cora Vieira, uma brasileira. Dessa união nasceram Marum, Nagibe, Acácia e Corintha. Corintha, nascida em São José do Calçado, Espírito Santo, mãe de Natal, Danton, meu pai, Darina, Pedro, Selma e Anna Maria, frutos de seu casamento com Octaviano Ribeiro, nascido em Santo Eduardo. O encontro entre as famílias Ibrahim e Ribeiro ocorreu, portanto, em uma área relativamente pequena, abrangendo Santo Eduardo, São José do Calçado e São Pedro de Itabapoana, na vasta região que outrora foi domínio tradicional indígena, especialmente do povo Goitacá.

A morte dos membros do “clã dos Ibrahim” e do “clã dos Ribeiro”, termos usados por papai, conduziu a maior parte da família para a cidade de Rio de Janeiro. Nessa cidade papai encontrou Wilma, descendente de espanhóis, em um baile do Colégio Militar, com um lindo vestido amarelo com bolinhas brancas.

Neste momento, revolver a terra da ancestralidade dá-se pelos últimos acontecimentos ocorridos em Beirute, capital do Líbano, no litoral do histórico e lendário Mar Mediterrâneo. A explosão causada por nitrato de amônio, elemento químico utilizado na produção de fertilizantes e explosivos para mineração, deixou quase metade da cidade destruída, mortos, desaparecidos, feridos, desabrigados. Pelos noticiários televisivos, a explosão formou enormes bolas de fogo e colunas de fumaça, destruindo a “Paris do Oriente Médio”, como foi chamada a cidade de Beirute antes da guerra civil libanesa (1975-1990), marcada por enfrentamentos e massacres entre comunidades religiosas, intervenções síria, israelense e Nações Unidas, tomada de Beirute por Israel, dentre outros fatos não menos violentos.

Peças sem fim de um quebra-cabeça continuam a completar imagens de minha ancestralidade. “Tudo junto misturado”, longe de exigir o raciocínio lógico do jogo, encontros continuam a acontecer, a trazer mais indagações sobre tempos e espaços pretéritos que possivelmente emergirão raras e caras respostas ao presente.

Penso na árvore do cedro estampada na bandeira do Líbano. Vegetal majestoso, nativo das montanhas da região mediterrânea, Síria Ocidental, Turquia e Chipre. Que o Líbano volte a crescer, inspirado nos ensinamentos do cedro: enquanto seu caule e copa estão em crescimento, com cinco centímetros de altura, sua raiz já atinge um metro e meio de comprimento. Cresce em direção ao lençol freático, na busca de seu próprio alimento, na busca de sustentar e alimentar sua frondosa copa.

 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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