Este é o texto mais fácil de escrever entre os que fiz nestes anos como articulista de sites e jornais, mas também o mais triste. Fácil porque quase basta copiar um artigo que publiquei em abril de 2016 e triste, pois traz pra hoje, potencializado, o medo de que mais uma vez no Brasil o vício vai vencer a virtude.
Na época, baseado em uma entrevista de um juiz que atuou contra a Máfia italiana, escrevi em comparação com a Lava-Jato:
“A Itália é um país “padrão Brasil” de corrupção. Talvez até mais violento e assustador, pois lá moram a Camorra e a Cosa Nostra, máfias de fama e atuação mundiais. São essas organizações criminosas que foram enfrentadas pela operação Mãos-Limpas na última década do século passado.”
“Segundo o juiz entrevistado, passados o susto e a surpresa dos empresários e políticos presos, houve uma retomada da batalha pelos condenados e investigados com o fim de anular punições e inviabilizar futuras condenações.”
“Isso nos faz pensar que aqui no Brasil não será diferente.” Escrevi na época.
Não foi diferente. A lava-jato tinha na época um inimigo declarado que era o PT por conta da devassa que foi feita no governo deste partido, colocando na cadeia políticos (Lula, Zé Dirceu, Vaccari etc.); também empresários antes absolutamente intocáveis (Odebrecht, Ricardo Pessoa) e diversos inimigos ocultos que a odiavam, mas não manifestavam isso ostensivamente (Congresso Nacional, advogados dos criminosos, empreiteiras, parte do STF, Centrão, Governo Federal).
A novidade é que agora a Lava-jato, braço do Ministério Público, arrumou um inimigo poderoso que é o próprio órgão, representado pelo seu chefe maior o Procurador Geral da República.
O Centrão – grupo de partidos políticos que sempre mandou nos governos passados e que recentemente celebrou acordo para mandar neste também – diante da guerra aberta pelo procurar geral Augusto Aras criou coragem para bater de frente com a Lava-Jato.
Unem-se neste momento parte do STF que nunca engoliu os procuradores de Curitiba, muitos colegas enciumados com o sucesso da força-tarefa, advogados que defendem os condenados, políticos investigados e o governo federal que demonstra grande interesse em desmerecer Lava-Jato, e por tabela diminuir a popularidade do Sergio Moro, possível concorrente ao Palácio do Planalto em 2022.
Escrevia ainda no texto citado (abril/2016):
“O problema é que todos querem a justiça atuando nos grupos adversários. Quando as investigações e prisões chegam aos seus partidários a tendência é reagir. O medo de acordar às 6 horas com a turma de preto à porta tem tirado o sono de muita gente e unido adversários políticos contra o perigo comum representado pela Lava-Jato.”
Dizia ainda: “Não sou pessimista, mas vendo que já começou a desconstrução da nossa operação ‘Mãos-Limpas’ é previsível um fim semelhante ao da Itália. Gente poderosa está investindo pesadamente na busca de fatos que desqualifiquem os policiais, promotores e juízes ou de erros burocráticos para ‘melar’ a operação”.
Minha tristeza se justifica: fatos recentes indicam que Lava-Jato e Mãos Limpas seguem a mesma sina. Copiamos a Itália, que, definitivamente não é um bom modelo.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor.