Em tempos de isolamento social por conta da pandemia provocada pelo Covid-19, mais ainda o cinema em casa tem sido uma excelente opção de lazer. As escolhas chegam a ser difíceis de fazer diante da quantidade de filmes disponibilizados em canais abertos e fechados. O filme Como era gostoso o meu francês (1971), de Nelson Pereira dos Santos, pode ser um excelente programa.
Com título extremamente sugestivo, Como era gostoso o meu francês baseia-se nos diários do viajante alemão Hans Staden (1525-1579) que permaneceu durante oito meses prisioneiro dos índios Tupinambás, de hábitos antropofágicos, e do francês Jean de Léry (1534-1611), um jovem que decide acompanhar um grupo de protestantes à França Antártica, colônia francesa localizada na Baía de Guanabara, atual Rio de Janeiro.
É possível que o trabalho de Nelson Pereira dos Santos constitua-se no primeiro filme a exibir em telas cinematográficas uma leitura da proposta modernista de Oswald de Andrade. Isso porque, ao ser inserido na cultura indígena, o francês acaba por se dissolver nela. É uma possibilidade ímpar de permitir a assimilação do outro em cada um de nós.
Produzido em plena ditadura civil-militar, o filme de Nelson Pereira dos Santos teve percalços com a censura, pois os figurantes indígenas apresentam-se nus. Depois de muita polêmica, foi liberado para maiores de 18 anos, já que a nudez indígena não foi considerada pornográfica.
No filme ouve-se da bela indígena que foi entregue ao francês antes de morrer em ritual antropofágico: “só a antropofagia nos une”. No momento em que as partes do corpo do francês são divididas entre os Tupinambás, o pescoço é reservado à amante. Vale a pena assistir!