Ao fim da última ditadura do Brasil em 1985 os políticos que queriam fazer boa figura e conquistar votos se diziam democratas desde criancinha. Havia uma razão muito forte para a palavra democracia estar tão em moda na época: saíamos de um período conturbado de ditadura militar que já durava 20 anos e o povo estava à espera de um novo regime político que enfim tiraria o País do brejo.
O novo sistema de governo de fato veio, mas tendo os aliviado do autoritarismo mergulhou-nos em uma lama de corrupção generalizada. Ainda assim, a despeito da roubalheira que se instalou algum tempo depois, o regime militar não deixou saudades.
Observa-se atualmente a volta da palavra democracia ao gosto popular. O fato é que tendo se consolidado em 1985 o regime político que ela nomeava não havia mais razão alguma para ser lembrada, posto que estava – pensávamos – enraizada no nosso meio.
Da mesma forma que só se fala na importância da água em nossas casas quando ela começa a escassear, a palavra democracia ficou muitos anos esquecida simplesmente porque não havia nenhuma ameaça real sobre a nossa liberdade.
Atualmente um medo, ainda meio abstrato, de perdermos a alforria alcançada tem impulsionado diversos movimentos de protesto pelo País contra o governo Bolsonaro.
Movimentos de rua são imprevisíveis. Às vezes basta uma pequena faísca para desencadear um incêndio catastrófico. Isso aconteceu em 2013 no governo Dilma quando um protesto por um aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus espalhou-se pelo país inteiro com violentas depredações de bens públicos e particulares.
Há quem diga que o verdadeiro motivo do crescimento do protesto naquele ano foi a reação violenta da polícia, esquecendo-se que ele já começou agressivo e que esta (a polícia) somente reagiu à altura diante da hostilidade dos chamados Black Blocs.
Agora, sete anos depois os protestos voltam às ruas defendendo uma democracia que eles veem ameaçada. Menosprezam, entretanto, a imprudência da ação neste momento, pois estamos diante de um Presidente que desde a campanha eleitoral elogiou a ditadura. Não há como negar este viés ditatorial do Capitão e dos filhos que participam do governo. Assim não convém cutucar a onça com vara curta dando-lhe motivo para uma eventual ruptura sob a desculpa de manter a lei e a ordem.
Não há como negar que está crescendo no meio político, na mídia, no judiciário e na sociedade o medo de um retrocesso no sistema de governo. No momento todos voltam os olhos para o Exército Nacional, tentando sondar suas tendências e avaliar o risco do seu apoio a uma tentativa de ruptura.
Todo cuidado é pouco, pois convém não esquecer que o povo é inconsequente: a maioria da população apoiou o movimento dos Black Blocs que detonou o País em 2013, e cinco anos depois, aplaudiu os caminhoneiros que desabasteceram a Nação e detonaram a economia. Essa mesma maioria tende a apoiar os membros de torcidas organizadas que agora querem o impeachment do Presidente.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor