Quando a economia mundial estava arruinada no final da segunda guerra apareceu uma mão salvadora cheia de dinheiro disposta a distribuí-lo entre os aliados vitoriosos. Eram os Estados Unidos emprestando “generosamente” bilhões de dólares, principalmente aos países europeus que sofreram os horrores da guerra que terminara há pouco.
Não, este gesto não foi pura bondade dos EUA, mas sim uma aposta econômica bem pensada de dar poder de consumo aos seus parceiros comerciais, momentaneamente incapacitados de comprar produtos americanos, mediante algumas condições de abertura comercial. Deram-lhe o nome de Plano Marshall, em referência ao Secretário de Estado dos Estados Unidos que tinha esse sobrenome.
Alguns dizem que os 100 bilhões de dólares investidos (valores corrigidos) ajudaram, mas não foram os únicos responsáveis pelo extraordinário progresso que tomou conta da Europa depois da guerra. Mas o fato é que a região experimentou uma fase de desenvolvimento entre 1948 e 1952 jamais vista em sua história econômica.
Pelos seus prejuízos espalhados pelo mundo inteiro, talvez possamos chamar a Covid-19 de Terceira Guerra Mundial não só pelo número de vítimas, mas também pelo estrago que está fazendo na economia do planeta. Ao fim dela as finanças do mundo estarão tão combalidas que seria bem vindo um novo Plano Marshall.
Só que agora, com o tamanho da economia mundial não se fala mais em bilhões, mas em trilhões de dólares, dezenas de trilhões de dólares.
Qual seria o país disposto a investir tamanha quantidade de dinheiro, contando colher no futuro os lucros dessa arriscada empreitada?
Temos um aspirante que sonha tornar-se a maior economia do planeta que possui cacife e apetite para grandes jogadas. A China, cuja prosperidade e crescimento invejáveis despertam a atenção dos estudiosos de economia, pode se tornar a financiadora da recuperação mundial.
É bom notar que o excelente resultado econômico que tirou mais de 500 milhões de chineses da pobreza, transformou-se em motivo de orgulho nacional e fortaleceu o Partido Comunista que manda no país. O crescimento, a ascensão social e o enriquecimento pessoal presentes hoje na China mostram que ela, embora não tenha a liberdade de uma democracia, também não é uma ditadura hermética. O partido Comunista vem se adaptando às exigências da população e, talvez por isso, mantém-se firme no comando.
Parece que este país asiático não se preocupa muito em exportar ideologias, antes se concentra em fabricar e vender, o que faz com grande competência. Se eles topassem encampar um moderno Plano Marshall creio que não seria por altruísmo e nem para implantar o comunismo no mundo, mas sim para garantir mercado para seus produtos, acesso a matérias primas que as fábricas demandam e alimentos para sua numerosa população.
Não precisamos ter medo dos chineses, eles não vão se impor através de armas e terrorismo. Provavelmente continuarão a fazer o de sempre: produzir com eficiência para vender barato.
Se a China bancar um novo Plano Marshall o Brasil pode ficar bem na fita, afinal produzimos em abundância o que eles precisam.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor