Com pelo menos 18 inquéritos policiais instaurados na Corregedoria da Polícia Militar de Mato Grosso, 1º tenente da PM, Thiago Satiro Albino, lotado na Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), é acusado por diversas vítimas de tortura, agressões verbais e violação domiciliar. A estudante de jornalismo Yanke Amorim, 23, é uma delas e descreve momentos de terror vivenciados nas mãos do militar.
Ela chegou a sangrar após levar diversos chutes no abdômen, tapas e socos no rosto. Relatório da vida militar de Albino aponta que conduta agressiva e desequilibrada é comum em sua rotina, que inclui desde dar socos e pôr fogo nas vítimas até desferir chicoteadas com cabo de aço.
Luan Maxi da Cunha Teixeira, 27, relata como foi torturado por Albino e outros 3 policiais militares em junho de 2018. Na ocasião, a vítima tinha ido até um bar, localizado na avenida Alzira Santana, em Várzea Grande, para comprar um refrigerante para a esposa que estava grávida. No momento em que estava saindo, Thiago chegou e gritou que quem ali
tivesse passagem criminal iria apanhar.
Luan estava com um short estampado com um desenho animado que teria incomodado Albino. Por isso, mandou que um dos militares que o acompanhava pegar álcool e fósforo na viatura na intenção de queimar a vestimenta ainda no corpo da vítima. “Ele jogou o álcool e ateou fogo. Tive que tirar o short e ficar só de cueca para não me queimar. Minha
reação deixou ele ainda mais nervoso”.
Depois disso, Thiago falou que Luan estava o desafiando, por isso, iria deixá -lo como Jesus, quando levou chicotadas antes de ser crucificado. Mais uma vez um policial que acompanhava Albino foi orientado a buscar um cabo de aço na viatura. Sem camisa, Luan levou incontáveis chicotadas com o cabo de aço. Um outro rapaz que também estava no bar teve os dois braços quebrados por Thiago. “Ele só não nos matou porque um dos policiais falava o tempo todo que já tinha checado o nosso nome no Centro Integrado de Segurança Pública (Ciosp) e, se sumíssemos, iria complicar para o lado deles”.
No mesmo dia em que agrediu Luan, Thiago e seus companheiros torturaram um casal que voltada de carro do mercado com os dois filhos que, na época, tinham 3 e 6 anos de idade, no bairro Costa Verde, em Várzea Grande. A diarista N. N. S. de S., 21, e o marido dela, o eletricista E. M. M.,30, foram arrancados do carro e agredidos com socos e chutes. A mãe das crianças, que presenciaram toda a cena, ainda foi jogada no chão e teve o pescoço pisoteado por Albino. Depois, foi algemada e colocada dentro do camburão, de onde posteriormente foi arrancada pelos cabelos.
Os militares permitiram que o eletricista fosse até o carro para cuidar dos filhos. Ele seguiu a viatura até a Central de Flagrantes de Várzea Grande, onde foram mais uma vez agredidos. A esposa de E. foi atingida por diversos socos e chutes ainda dentro da viatura, além de ter os olhos atingidos por spray de pimenta jogado pelos policiais.
A estudante de jornalismo, Yanke Amorim, 23, foi uma das mais recentes vítimas de Albino. Ela conta que estava em sua casa, no bairro Nova Esperança, e acordou com vários policiais já dentro do imóvel.
“Acordei com um dos meus priminhos, que é uma criança, na cama falando que tinha polícia. Olhei para a porta do quarto e já me deparei com um militar armado, me mandando sair do quarto”.
Como era a única mulher e a mais velha da casa no momento, os policiais mandaram que ela fosse para fora da casa com as crianças, ordem obedecida pela estudante. Já lá fora, ela questionou um policial sobre o motivo da invasão de sua casa e foi informada que receberam a denúncia de que ali havia armas de grosso calibre e drogas. Ao todo, havia 8 policiais revirando sua residência. Foi então que Yanke perguntou sobre o mandado, documento necessário para poder adentrar ao imóvel, questionamento que irritou o tenente Thiago Satiro. “Ele estava na casa da minha vizinha e, como não tem muro, escutou minha pergunta e já veio de lá agressivo, me xingando de vagabunda, noiada”.
A jovem foi agredida com um tapa no rosto, seguido de um soco no olho direito. Acabou caindo no chão, se tornando alvo ainda mais fácil. Thiago deu diversos chutes em sua barriga, na sua cabeça, pisou em suas costas e a algemou. Nesse momento, toda a vizinhança já estava entorno da casa de Yanke, mas, nem mesmo a presença de várias pessoas no local intimidou o militar, que continuou com as agressões e palavras de baixo calão.
Ela lembra que os primos, irmãos e até o filho de um vizinho que, têm idade entre 5 e 12 anos, choravam muito diante das cenas violentas e foram ordenados a virarem o rosto para a parede e colocar as mãos na cabeça, conduta feita em revista pessoal com adultos. “Eles estavam com muito medo, eu era a responsável por eles naquele momento. Minha mãe havia ido em um velório e meu pai estava trabalhando”.
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