Na crônica da semana passada, iniciei uma narrativa sobre minha passagem pela Rádio Comunitária FM 105.9, no programa Terra Brasilis. E por que lembrar de fatos depositados nos arquivos da memória? Nas palavras do filósofo francês Paul Ricouer, “não temos nada melhor que a memória para significar que algo aconteceu, ocorreu, se passou antes que declarássemos nos lembrar dela”. Abrir as gavetas de arquivos recônditos nos conduz à ressignificação de acontecimentos, de nós mesmos. Ao manusear papéis pretéritos, tem-se a oportunidade de reconfigurar os ocorridos. É como passar a limpo o passado ao nosso modo. Porque, certamente, outros aspectos surgirão na narrativa da rememoração.
Cheguei à Rádio Comunitária CPA FM 105.9 pelas mãos de minha ex-aluna, Joyce Thays Pereira dos Santos. Àquela época, o programa semanal “Educação em Saúde”, uma parceria estratégica composta pela Rádio Comunitária CPA e Clínica da Família do CPA e pelo Hospital Universitário Júlio Muller, era apresentado por Joyce Thays, Assistente Social, Bianca Cameski, Psicóloga, e Luiza Rabelo, Enfermeira. Naquele dia, respondi às perguntas das profissionais concernentes à saúde dos povos indígenas.
Maravilhada com o alcance das ondas de uma Rádio, ao término do programa, conversei com Joyce sobre a possibilidade de a Rádio Comunitária CPA disponibilizar um espaço ao debate sobre a situação dos povos indígenas no Brasil, com ênfase nos de Mato Grosso. Imaginei a radiodifusão sonora como um instrumental de socialização de informações históricas e antropológicas sobre os povos indígenas, ainda tão distantes da maior parte da população brasileira. O programa de Joyce, Bianca e Luiza – Educação em Saúde – aflorou as memórias de minhas leituras sobre Edgar Roquette-Pinto (1884-1954), considerado o “pai da radiodifusão no Brasil”.
O cientista carioca, formado em medicina, especializou-se em Antropologia e Etnologia. Contestou veementemente a tese de que a miscigenação havia produzido “raças inferiores”, conforme defendiam a elite intelectual e cientistas brasileiros. No início da década de 1920, criou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com o intuito de difundir conhecimentos por este meio. Era a radiodifusão à disposição da Educação.
Radiodifusão a serviço da cidadania! Povos indígenas na Rádio Comunitária CPA. Geremias dos Santos, Diretor da emissora, cedeu-me parte do programa, “Opinião CPA”. Mais do que isso, me foi dada a palavra aberta, a expressão aberta – liberdade de expressão, apanágio da natureza racional das pessoas.
(continua na próxima semana)