O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou no último dia de 2019 as primeiras imagens produzidas pelo satélite CBERS 04A, produzido pelo Brasil em parceria com a China. O equipamento é o sexto a ser desenvolvido pelo projeto CBERS, firmado com o governo chinês em 1988, e auxiliará no monitoramento ambiental e terrestre, como na identificação de desmatamento e queimadas na Amazônia Legal.
Os satélites do CBERS, segundo o Inpe, também colaboram para "o monitoramento de recursos hídricos, áreas agrícolas, crescimento urbano e ocupação", além de pesquisas de universidades e de empresas que atuam com geoinformação e sensoriamento remoto.
As três câmeras do satélite registraram cidades no estado do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul. As imagens foram gravadas pela unidade do instituto em Cuiabá e processadas na sede nacional, em São José dos Campos. A partir dos primeiros registros, o CBERS 04A entrará em uma fase de testes de até três meses. Ao final desta etapa, será declarado plenamente operacional.
Segundo o Inpe, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o CBERS 04A duplicará o número de imagens disponíveis no sistema CBERS, uma vez que outro satélite, o CBERS-4, continua no espaço.
Além disso, o novo equipamento possui uma nova câmera imageadora, de tecnologia chinesa, capaz de oferecer uma resolução geométrica e espectral de qualidade superior à dos antecessores. O CBERS 04A entrou na órbita depois do lançamento na base chinesa de Taiyuan, a 500 quilômetros de Pequim, com custos divididos entre os dois países. O Inpe também divulgou imagens registradas e processadas na China.
O governo brasileiro usa outros dois sistemas para acompanhar o avanço do desmatamento no Brasil: o americano Landsat-5/TM e o indiano IRS-2, que atuam juntos do CBERS-4. Eles são a base do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes) e têm seus dados combinados por meio de um modelo matemático com precisão de até 95%.
O sistema é reconhecido internacionalmente como o melhor monitoramento de florestas tropicais do mundo. No entanto, o governo Jair Bolsonaro passou a questionar publicamente os dados do Inpe quando os satélites passaram a indicar uma explosão nos índices de desmatamento.
O presidente chegou a insinuar que o então presidente do instituto, Ricardo Galvão, manipulava os dados para favorecer ONGs. O episódio levou à queda de Galvão, recentemente apontado pela revista científica "Nature" como uma das dez personalidades que fizeram a diferença para a Ciência em 2019.