Opinião

Ser e estar

Andei cansada de correr atrás do que contar e, para quebrar a escrita, dei uma pausa na escrevinhação…

Não foi a falta de assunto que causou a lacuna. Foi o excesso.

A capacidade de filtrar os acontecimentos se exauriu, aliada a rapidez com que o fato realmente importa e deixar se interessar, atropelado por novos acontecimentos.

Os poucos dias, ou horas, entre escrever e publicar viraram séculos na atualidade e no interesse sobre qualquer coisa.

Quando estava indo, (após estabelecer um raciocínio, construir um argumento e desenrolá-lo num texto), o assunto já tinha voltado, não sem antes desandar mexido no panelão que afogou o Don Ratão das cruéis e devastadoras redes sociais.

Assim ninguém vai casar com a Dona Baratinha…

Para retomar o fio do exercício literário semanal é necessário agarrar a ponta da corda que ancora as crônicas do “Sem Fim” que desenrolo há tanto tempo.

É hora de firmar para encarar ao caderninho, mesmo que pouco usado e ainda estranho às voltas que minha imaginação costuma dar. Cada troca de volume é um amigo que não se perde, que vai para a prateleira das lembranças e memórias. Leva um tempo para se acostumar, mais um pouco para se acomodar e, aí, já é quase hora de partir para outro companheiro.

E não adianta fazer como agora, mudando o rumo da prosa. Tem que ser objetivo para manter o prumo!

Recuperar o espaço físico ajuda. O horizonte infinito do mar que circunda as minhas pontas do Leme e do Arpoador, quase ilhas, que me acolhem, aconchegam e dão asas para voar.

Firmar no tempo, a tarde lânguida de uma sexta-feira de primavera. Como no princípio, meio e fim de uma quase aventura.

Depois de fazer um dos exercícios prediletos, caminhar pela areia fofa, até a parte de trás das batatas das pernas parecerem queimar, procurar um lugar. O lugar.

Tentar, sem sucesso, uma aproximação para o mergulho que garantiria o tom lindo o bronzeado, porque a água está estupidamente gelada. Naquela temperatura que chega a dar câimbras.

Me instalei no alto de uma “falésia” provocada pela força e o capricho do humor das marés do Oceano Atlântico.

Num ponto em que a paisagem se derrama em 300 graus de visibilidade.

É só mar do Arpoador até ponta do Morro do Vidigal, com direito a um dia clássico, incluindo os perfis das ilhas do Clube Costa Brava e das Tijucas.

Bem em frente, as Ilhas Cagarras recebem o sol que desenha uma meia sombra. É o “lado oscuro de las islas” a esquerda e a luz solar incidindo a direita realçando os contornos de pedra e paisagens naturais.

Tudo é poesia com filtro polarizador das saudades que me castigaram no período de abstinência literária.

Incomum, mas essencial na busca do olhar amoroso que derramo sobre meus domínios visuais e sensoriais.

Em cima da cadeia de montanhas, composta pelo Vidigal, Dois irmãos, Pedra da Gávea, uma formação de nuvens se arma, o que não garante o dia clássico de amanhã. Tudo pode acontecer, dependendo do lado para onde soprarão os ventos da noite carioca.

Que diferença faz? Nenhuma. O que vale é o agora. O vento fresco que bate na praia temperando a sexta-feira.

Estou e sou. Em paz.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Arpoador”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

 

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do