O governo tem alguns ministros que cumprem o dever discretamente; três que se destacam pela competência e serenidade, e outros três que, bem ao estilo do CapitãoPresidente, criam confusão todos os dias. Paulo Guedes, Sergio Moro e Tereza Cristina estão no primeiro time; Weintraub, Ernesto Araújo e Damares formam a segunda turma. Neste último grupo cabe o Ministro do Meio-ambiente, que tendo contraído severa “bolsonarite” culpa o Greenpeace pelo derramamento de óleo no nordeste. Escolhidos à imagem e semelhança do Messias os três da segunda turma só perderão os cargos se caírem na desgraça dos Príncipes Herdeiros, especialistas em fritura de ministros como já fizeram com o Bebiano, o Santos Cruz e só não demitiram o vice Mourão porque é impossível. Os Ministros da Economia, Justiça e Agricultura são intocáveis. Eles carregam o país nas costas a despeito de todas as trapalhadas do chefe, que fez mestrado, doutorado e postdoc na arte de se meter em brigas. Já disse aqui uma vez que o Presidente sai de casa todos os dias com três cascas de banana no bolso; se até às nove horas da manhã não aparecer nada que o faça derrapar ele joga as cascas no chão e escorrega nelas. Foi assim com esta última crise que ele criou com seu próprio partido, o PSL. Claro que população de modo geral não está preocupada com essas facções, mas nesse caso o prejuízo é grande porque diminui a instável base de sustentação política do
Presidente, dificultando a aprovação de projetos importantes. A população brasileira já sabia das idiossincrasias do Presidente quando o elegeu. Conhecia seu estilo briguento, sua disposição para o enfrentamento, a falta de serenidade para contornar situações embaraçosas e a mania de achar culpados para todos os reveses. Só não sabia que essas baldas eram geneticamente transmissíveis e que seus herdeiros teriam tanta influência sobre o governo do pai. Entretanto, a despeito disso o Capitão mantém um grupo importante de admiradores
que estão dispostos a reconduzi-lo ao cargo no final deste mandato. Pesquisas mostram que ele venceria o Doria, o Ciro e o Lula, se este conseguisse reverter a atual proibição de candidatar-se. Só perderia para o Ministro Sérgio Moro, campeão disparado de intenção de voto. Mas o risco parece pequeno, porque o Ministro, pelo menos por enquanto, mantém o discurso de fidelidade ao Presidente, recusando qualquer possibilidade de candidatura. Eu acredito na fala do Moro, por enquanto também, porque ele ainda não é político. Mas em três anos muita coisa pode acontecer, até o indesejado contágio do Ministro pelo vírus da política que costuma fazer os infectados esquecerem dos compromissos assumidos.
Enfim, se o Presidente perder a Ministra da Agricultura sofrerá um baque importante; despachando o Paulo Guedes o risco de desandar o governo é muito grande. Agora, se brigar com o Sergio Moro, aí sim “tá na roça”, porque o bolsonarismo tem muitos seguidores fieis, mas o Ministro é unanimidade nacional. Particularmente acho que o ex-juiz não se adaptaria ao cargo. A Presidência da República requer pessoa de flexível molejo, qualidade que o Ministro Moro, com seu perfil de magistrado, parece não ter.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor
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