Cidades

Livros expandem conhecimento das crianças, mas ainda são caros

Imagine embarcar para uma outra realidade, conhecer personagens, lugares e histórias onde e quando quiser. Parece um truque de mágica, não é mesmo? Mas é exatamente isso que a leitura proporciona às pessoas. A prática, além de entreter e divertir, também expande conhecimentos e estimula a criatividade de crianças e adultos leitores.

Para os menores, a literatura possui uma importância ainda maior. Como estão em processo de crescimento, os livros contribuem positivamente para os pequenos no desenvolvimento de habilidades sociais, como a concentração, o raciocínio lógico, a imaginação, o vocabulário, entre outras.

Para falar sobre o tema, o Circuito Mato Grosso conversou com o historiador e produtor cultural Clóvis Matos. Ele, que é o idealizador do projeto Inclusão Literária, responsável pela entrega de livros nos locais mais isolados do Estado, destacou que a prática é essencial para formar cidadãos mais capacitados. “Toda a criança que tem o hábito de ler será uma pessoa diferenciada no futuro. A leitura faz com que as pessoas tenham maior capacidade de discutir e argumentar sobre diversos temas”.

No entanto, os negócios empresariais referentes ao mercado literário têm passado por sérios problemas. De acordo com um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), diversos produtos como brinquedos e eletrônicos registrarão o melhor desempenho, nos últimos seis anos, nas vendas para o Dia das Crianças. Em contrapartida, o segmento de livrarias e papelarias sofrerá forte queda e vai faturar 4,1% menos que na mesma data em 2018.

O índice vai de encontro a outras estatísticas nada animadoras para os aficionados por leitura. Conforme dados do Ministério do Trabalho, 21.083 livrarias fecharam as portas na última década. Além do mais, 30% da população admite nunca ter comprado um livro, aponta um estudo da Pesquisa Retratos da Leitura.

Clóvis acredita que fatores operacionais, como o elevado custo de produção dos livros, ajudam a explicar os números negativos. “O livro é um objeto caro e, mesmo sendo de fundamental importância para o conhecimento, as pessoas não enxergam dessa forma. O papel utilizado para confeccioná-lo tem um custo altíssimo, pois é voltado apenas para a exportação, o que faz com que ele seja cotado em dólar. Embora tenhamos um mercado gráfico muito bom, o valor para produzi-lo é o que encarece”.

O historiador ressalta que a família deve estimular o hábito de ler, principalmente nas crianças e nos adolescentes “Essa prática deve ser incentivada primeiramente em casa. É muito difícil alguém se tornar um leitor sem ter um exemplo no convívio próximo. Se os pais cultivam esse hábito, o interesse da criança será um processo natural”. Segundo Clóvis, as escolas também são cruciais no processode propagação literária. Ele explica que as instituições de ensino devem ter um planejamento para impulsionar a adesão pelo hábito. "Ficar preso unicamente ao material didático faz com que a leitura se torne chata. A leitura é algo inteligente, é uma troca de conhecimentos. Chato é ficar burro".   

Ele fez críticas ao Poder Público e afirma que os governantes têm a obrigação de criar mecanismos com o objetivo de difundir a literatura na sociedade. “O brasileiro não tem muitos acessos à literatura. E não se trata de interesse, garanto. Quando entrego livros nas áreas mais isoladas, o povo fica muito contente e diz que gostaria de ler, mas que não as obras não chegam nesses lugares. O que percebo é que quanto mais longe eu vou, mais as pessoas querem livros. E isso é papel do Estado, que deveria fazer programas para fomentar a cultura para essas pessoas”, frisou.

Amor pela literatura

Reconhecido nacionalmente por ser um dos maiores incentivadores da causa, Clóvis contou que a sua paixão pela leitura surgiu na infância, quando ainda morava em Iporá, município localizado no oeste do Estado de Goiás.

“Comecei a ter gosto pelo hábito quando tinha oito anos de idade, lendo gibis. Minha família tinha um hotel na cidade, que era muito pequena e não tinha uma livraria sequer. Mas mesmo assim, nós recebíamos muitas pessoas que passavam pela região e algumas delas deixavam quadrinhos, revistas e almanaques que me despertavam muito interesse”.

“Na época, também fui muito influenciado por um grupo de estudantes da Universidade de Brasília, que se hospedavam no hotel da minha família. Eles sabiam do meu interesse por literatura e traziam diversos livros. Com onze anos, já tinha lido Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez. Desde então, nunca mais parei”.

Inclusão Literária

Com o passar do tempo, o que era hobby se transformou em um ambicioso projeto de fomento à leitura em Mato Grosso – o “Inclusão Literária”. Em quase 14 anos da iniciativa, Clóvis já distribuiu cerca de 140 mil livros, de forma gratuita, para moradores de, aproximadamente, 180 localidades do Brasil.

Ele conta que a inspiração veio no período em que prestava serviços para uma livraria. “Eu trabalhava no departamento de marketing da empresa e criei espaços dentro da loja para que os leitores pudessem ter acesso a trechos de obras literárias. A intenção era fazer com que os clientes lessem algumas páginas e comprassem os livros. Porém, elas terminavam a leitura após frequentarem a livraria por alguns dias e não levavam nada [risos]”.

“Então, eu percebi que se as pessoas com total facilidade de acesso não tinham dinheiro para comprar os livros, imagina quem mora na zona rural ou nas pequenas cidades do interior, que não tem uma livraria ou biblioteca por perto. Foi aí que coloquei quase três mil livros da minha biblioteca pessoal dentro de caixas e fui distribuir em uma escola, no distrito da Varginha [em Santo Antônio do Leverger – 36 km da Capital]”.

A rotina e a entrega do homem de 65 anos também chamam a atenção. Ele revelou que fica menos da metade dos meses em casa. “Quando passo mais de 10 dias aqui, já começo a ficar fissurado, procurando algum lugar para levar o meu trabalho [risos]”. Mas não pense que o período em casa é marcado apenas por descanso. “Estou sempre em busca de donativos, selecionando e catalogando livros para a execução do projeto. É um trabalho contínuo, direta ou indiretamente”.

O custo anual do Inclusão Literária, segundo Matos, gira em torno de R$ 150 mil, contando os gastos com documentação, combustível e revisão dos veículos utilizados, alimentação, hospedagens e aquisição de novos livros. Para isso, ele conta com o apoio de patrocinadores, que ajudam a manter o projeto.

“Sou muito ajudado pela Energisa e pelo Shopping 3 Américas, que juntos cobrem 50% do projeto. Eu tenho que me virar para levantar mais fundos. Para isso, realizo eventos como feiras de livros, que são vendidos a preços populares. Contudo, é importante frisar que o objetivo é gerar renda para a manutenção do programa, que funciona a base de doações”.

A menos de três meses para a chegada do Natal, Clóvis se prepara para dar vida ao personagem mais famoso da época. O Papai Noel Pantaneiro, como é conhecido, conta que o ritmo de trabalho é intenso no fim do ano, mas que o resultado faz todo o empenho valer a pena.

“São 45 dias seguidos trabalhando como Papai Noel no shopping e nos meus projetos sociais. Nesse período, costumo receber muitos presentes doados pelas pessoas. Para se ter uma ideia, no ano passado entreguei quase 5 mil brinquedos e livros em mais de 40 comunidades do Pantanal. E a expectativa é ainda maior para esse ano”.

Clóvis Matos enfatiza que o Inclusão Literária e o Papai Noel Pantaneiro são projetos que o orgulham e que o motivam a seguir com as ações. “A maior felicidade é ver uma criança sorrir ao ganhar um presente ou ao pegar um livro. É um grande prazer ver as pessoas felizes e satisfeitas com o que eu faço. Trabalho por isso e pretendo continuar até quando a saúde permitir”.

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Cidades

Fifa confirma e Valcke não vem ao Brasil no dia 12

 Na visita, Valcke iria a três estádios da Copa: Arena Pernambuco, na segunda-feira, Estádio Nacional Mané Garrincha, na terça, e
Cidades

Brasileiros usam 15 bi de sacolas plásticas por ano

Dar uma destinação adequada a essas sacolas e incentivar o uso das chamadas ecobags tem sido prioridade em muitos países.