Politica e grosseiramente dá pra dividir a população brasileira em três conjuntos diferentes: o primeiro agruparia as pessoas que se identificam com a esquerda – grande parte deles seguidores do Lula. No outro extremo, os direitistas, cujo principal líder é o presidente Bolsonaro. Entre as duas pontas fica um grande grupo – cerca de 40% da população – que vê com reservas essa rivalidade. Estes penderam para a esquerda – talvez por falta de opção – e elegeram o PT quatro vezes seguidas. Agora ajudaram a criar um novo mito.
Os dois extremos são muito parecidos, pois usam artifícios semelhantes – principalmente acusações levianas e xingamentos grotescos – para manter os seguidores preparados para o confronto.
As palavras que as pessoas usam dizem muito sobre elas. Após o governo Fernando Henrique presidentes têm usados palavras toscas, tolas ou chulas que dizem muito sobre eles. Exceção foi o Temer, que domina como poucos o idioma e sempre manteve a necessária liturgia do cargo.
O Lula amparava-se nas metáforas futebolísticas porque seu banco de dados era limitado; a Dilma tinha até algum estoque, mas misturava as palavras na hora de falar. O Bolsonaro substituiu o futebol pelo casamento, que é outra comparação simplória. Ultimamente aproxima-se da escatologia com recorrentes referências a excreções do corpo humano.
Mas tanto Lula/Dilma como Bolsonaro tem especial inclinação pelo xingamento e essa desagradável característica contaminou a nação dividindo as pessoas em grupos rivais, que se ofendem mutuamente com palavras grosseiras e desnecessárias.
Na política sempre houve conflitos, mas separar a população pelo ódio foi tática do PT seguida com entusiasmo pelo Bolsonarismo. Hoje essas duas turmas se referem umas às outras e às autoridades do País com palavras impróprias e ofensivas. Ambos os grupos têm especial simpatia pelos adjetivos “bandido” e “vagabundo” que usam a torto e a direito.
Nas redes sociais a generalização dos xingamentos é preocupante. Direitistas classificam todos os militantes do PT como vagabundos porque alguns políticos desta sigla, ou muitos, não importa, meteram a mão na grana pública. Mas não é lícito colocar todos os petistas no mesmo balaio. Também é intolerável que estes rotulem os empresários de bandidos e ladrões. É verdade que muitos Lulistas ficaram desmoralizados nas operações da Lava-jato, mas igualmente outro tanto de patrões foram pegos participando do mesmo esquema.
Palavras tem o dom de retroalimentar a ira que expressam, potencializar o descontrole de quem as usa e de despertar nos outros o desejo de retrucar no mesmo tom ou em escalas maiores.
O processo civilizador é lento e nem sempre contínuo, basta uma sequência de líderes xucros para, de repente, retroceder sobre os passos já andados. A hostilidade, a deselegância e a vulgaridade estão latentes no meio social aguardando uma oportunidade para recrudescer. O Lula e sua turma prestaram um ótimo serviço à incivilidade, mas tudo indica que Bolsonaro e seus seguidores devem superá-los, se já não o fizeram. Ou, como diz a jornalista Eliane Cantanhêde, o que está aí não é o começo de uma era saudável, mas provável fim de uma era doente.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor
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