É a última, a derradeira escrevinhação nesse caderninho. A letra está pequenininha, bem apertada pro texto caber todinho nas últimas páginas.
Subi a Bulhões no sol de sábado quase tirando no unidunitê se falaria diretamente da Flotropi, a floresta incendiada, ou deixaria a cargo do extraterrestre Pluct Plact finalizar mais um volume de estórias e histórias.
Mudei de ideia logo na saída do prédio ao avaliar o engarrafamento que parava o trânsito da Bulhões da Carvalho. Lembra que expliquei na crônica “Nepotismo Natural” que a rua me levava direto do pé do morro ao Arpoador? Pois é.
“Ladeira” acima descobri o motivo da lentidão quase parando dos carros. Do outro lado da rua, entre a Souza Lima e a quina da Piragibe Frota Aguiar, Gomes Carneiro e Francisco Sá, começando por uma ambulância do Samu havia uma grande quantidade de variados veículos do Corpo de Bombeiros!
No meio da quadra um porteiro antenado que testemunhou os fatos me passou o relato do incêndio da loja de material de construção do entroncamento. Horas antes havia escutado lá de casa as sirenes que pareciam paradas, o que chamou a atenção, mas logo sumiram. Pensei que haviam passado, não que foram desligadas por já terem cumprido a função de abrir caminho até o sinistro. Como não ouvi mais, não tive a curiosidade de ligar na portaria e me inteirar dos acontecimentos. Perdi o fato, mas o relato de minha fonte supriu a deficiência.
Segundo ele a loja havia fechado depois do meio dia. O fogo começou por volta da uma hora da tarde. Os bombeiros acionados tiveram dificuldade para acessar o local porque, além da grade externa e um portão de ferro na entrada, havia a porta corrediça. Nessa tiveram que usar motosserra, o que teria gastado um tempo precioso. Demoraram a debelar o fogo.
Junto a loja há o depósito repleto de materiais inflamáveis, tintas, solventes e madeiras, etc. Meu observador explicou que os heroicos bombeiros entraram rastejando por uma fresta da porta corrediça com todo o equipamento que tinham direito. Roupas a prova de fogo, máscaras e oxigênio. A fumaça era altamente tóxica, razão de todas as precauções cabíveis.
E demorou para debelarem o fogo, ele calculou. “Imagina o calor no piso do primeiro andar, em cima da loja? Era muita fumaça e ela subia pelas aberturas internas do prédio. Dava para ver lá no alto do edifício a fumaça preta”, me contou.
Agradeci as informações e passando pela calçada oposta fui registrando a cena. Na quina, o carro com a escada Magirus estava a postos e, numa área cercada, os homens da corporação retiravam os equipamentos sob o olhar desolado dos funcionários e proprietário da loja. Não me aproximei porque quando a gente não tem como ajudar é melhor não atrapalhar.
Subi a rua pensando com meus panos e botões sobre essa cilada do se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Afinal, as portas, portões e grades que protegiam a loja funcionaram bem demais e cumpriram seu propósito. Só que testados pelo motivo errado acabaram impedindo que o prejuízo fosse menor e quase provocaram uma tragédia pior caso o fogo tivesse se expandido pelo prédio.
Segui pra praia com o cheiro da fumaça diminuindo aos poucos, já pensando que esse poderia ser o tema do texto. Bem assim sem especular muito. Mas deixando uma pulga atrás da orelha, leitor, sobre o dilema da rota de fuga em locais altamente protegidos.
Sabe como é quando você cria uma rede de proteção e depois não consegue se livrar da sua própria teia? Nesse caso havia o Corpo de Bombeiro para ajudar, correndo riscos calculados e seguindo protocolos para resolver o problema.
Mas…E quando não há rede embaixo para pular, faz o que?
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Arpoador”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com