O ex-governador diz que “sonhou muito” ao elaborar um projeto de gestão para mudanças estruturantes no Estado no tempo de um mandato. Ele citou como exemplo de sublimação, que levaram a erros, o chamamento de mais de 3,4 mil policiais e o pagamento de direitos salariais a servidores estaduais, entre 2015 e 2018.
“Sonhei em ser governado quando tinha 5 anos de idade, mas hoje admito que sonhei muito, cometi alguns erros ao querer fazer tudo”, disse durante fala de defesa no julgamento das contas de governo de 2018 no TCE (Tribunal de Contas do Estado) nesta terça-feira (6).
Ambos os pontos foram apontados pelo relator das contas de Taques, conselheiro interino Isaias Lopes Cunha. Sobre o gasto com pessoal, por exemplo, que ultrapassou 70% do orçamento no ano passado, ele disse que a tendência hoje é que o Estado passe a arrecadar apenas para cobrir gastos salariais a partir de 2022.
O limite prudencial foi ultrapassado em 2015 e, desde então, a proporção aumentou em mais de 20 pontos percentuais. Quanto ao caso de aumento do efetivo na área de segurança pública, o “erro” já era apontado durante o governo de Taques por analistas internos de planejamento. O número autorizado teria sobrecarregado as despesas, apesar da necessidade de policiais na rua.
Taques disse ainda que a manutenção do pagamento os direitos salariais aos servidores, foi uma decisão pessoal, apesar de ter a disposição a prerrogativa de uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) pelo estouro do limite de 49% previsto na LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal).
“Eu escolhi não barrar o ganho de patrimônio dos servidores porque entendo que não se deve tomar essa decisão. Não quis que o imposto de renda (IR) entrasse no cálculo dos gastos porque isso é um assalto à propriedade privada”.
A fala foi uma crítica indireta ao governador Mauro Mendes, que optou pela inclusão do IR ao cálculo de gasto de pessoal na reforma fiscal no início deste ano.
O momento da história
Pedro Taques invocou ponderações sobre recorte histórico para justificar suas decisões de mandato. Ele disse que Mato Grosso atravessou, coincidentemente ao tempo de seu governo, período turbulento “maior que a quebra da Bolsa em 1929, nos Estados Unidos, e a estagnação do café no Brasil”.
“Em 2015, Mato Grosso entrou em período de crise econômica, maior que o da Bolsa em 1929, e estagnação do comércio do café no Brasil. E não foi só crise econômica, mas também política, uma presidente [Dilma Rousseff (PT)] sofreu impeachment. Esse cenário precisa ser levado em consideração para analisar a gestão. A gestão precisar ser avaliada a partir de seu contexto, das dificuldades do gestor”.
Taques falou ainda sobre o exercício de poder e mencionou o peso das decisões por conta própria e os efeitos gerados por elas. “O poder é sinônimo de solidão. É preciso decidir sozinho. O eleitor não vem decidir junto com você. E eu sofri por algumas decisões minhas”.