Cacilda é um nome já conhecido do meio espirito mediúnico brasileiro afinal, sem sombra de dúvidas, o maior fenômeno mediúnico do país dentro das religiões afro-brasileiras se deu com a Sacerdotisa Cacilda de Assis que incorporava o Exu 7 Rei da Lira, no RJ, obstante, o que poucos sabem, é que uma cuiabana, médiun, e também sacerdotisa umbandista foi amplamente conhecida no Brasil e no exterior por um ponto de igualdade com a Mãe Cacilda de Assis: as curas milagrosas por meio de uma entidade espiritual.
Cacilda de Paula Gonçalves era cuiabana, filha de ex-escravos, nasceu nas terras da cidade verde, era esposa de Ronaldo Barbosa e com ele teve 12 filhos; teve seus primeiros contatos mediúnicos quando ainda tinha 9 anos no rústico Terreiro de Umbanda que fora construído por seu pai Mariano Gonçalves de Paula já em Corumbá que, na época, fazia parte de MT. Em 1964 a vida da cuiabana mudaria completamente quando Pai João de Minas, a entidade que se manifestava através de seu mediunismo, fez uma criança de 12 anos, paralitica, largar as muletas e começar a andar. A partir dali sua presença se tornaria o desejo de uma grande quantidade de fieis do MT, do Brasil, e das Américas, mas a aceitação total da sua missão só se deu aos 30 anos, na década de 60. Seu dom mediúnico de cura que podia se dar através da manifestação de Pai João de Minas ou não, foi manchete na imprensa de todo o país por decorrência das curas que operou em cancerosos, surdos, paraplégicos,e outros o que tornou Cuiabá ponto de referência para pessoas que desejavam partir em excursões até Corumbá que fora, na década de 70, literalmente invadida por acampamentos que surgiam ao redor do casebre miserável e isolado de Cacilda.
A falta de estrutura do local para receber os acampamentos criados por fieis que chegavam de trem, avião, automóvel e até em aviões particulares, na região do terreiro fez com que até mesmo a prefeitura intervisse na situação por conta da calamidade do lugar onde lixo se misturava a pessoas doentes, moradores, e vendedores ambulantes. ; O bairro que Mãe Cacilda enfrentava condições precárias: a rua não possuía nenhum calçamento, era poeirenta, sem instalações (forma correta: A falta de estrutura do local para receber os acampamentos criados por fieis que chegavam de trem, avião, automóvel e até em aviões particulares, na região do terreiro fez com que até mesmo a prefeitura intervisse na situação por conta da calamidade do lugar onde lixo se misturava a pessoas doentes, moradores, e vendedores ambulantes. O bairro em que Mãe Cacilda morava enfrentava condições precárias: a rua não possuía nenhum calçamento, era poeirenta, sem instalações sanitárias, somados a um calor escaldante durante o dia e muitos insetos durante a noite. Os hotéis da cidade estavam sempre lotados e até mesmo os restaurantes encontravam dificuldades em ter comida para atender a todos em especial se tratando de carne por decorrência dos períodos de antesafra. O barraco de madeira onde Mãe Cacilda atendia os doentes não possuía conforto algum, uma cobertura de palha foi feita junto ao barraco para que os que a aguardavam não sofressem insolação no famoso calor de Corumbá. Um fogão junto ao barraco sinalizava que faltavam espaço para a médiun, aliás, o único luxo que podia ser visto na vida de Mãe Cacilda era um refrigerador. As filas de espera eram grandes, nunca menos de 300 pessoas, e o atendimento podia acontecer depois de dias na fila; Santella Amatto, de Moji das Cruzes, veio a óbito na fila enquanto esperava dois dias para poder ver Pai João. Outras correntes religiosas da cidade se juntavam ao barraco de Cacilda para ajuda-la em preces dirigidas a pessoas que aguardavam nas filas, inclusive correntes orientais como o Djurei.
O movimento era intenso, e os milagres realizados pela médiun que atendiam de 300 a 500 pessoas ao dia causavam tumulto constante entre os que chegavam e outros que saiam. Pessoas de todas as classes sociais se aglomeravam na esperança de alcançar um momento que fosse junto da médiun na intenção de conquistarem suas curas e a resolução de seus problemas. Mãe Cacilda se levantava diariamente entre as 6 e 7 hrs., buscava água em uma lata de 20ltrs, tomava sua primeira refeição simples, e se dirigia para o barraco de madeira onde atendia as pessoas, distante 70 metros do seu terreiro; as sextas, segundas e quartas, dias em que tinha seção em seu Terreiro, Mãe Cacilda encerrava seu atendimento ás 18hrs, tomava banho em casa, e as 19hrs iniciava a sessão que se encerrava na madrugada. Seu atendimento era simples e direto: se concentrava com os olhos cerrados e logo recebia Pai João de Minas, não sofria nenhuma transfiguração quando estava mediunizada, nem tampouco sua voz se alterava.
“Havia aquelas pessoas que chegavam com chagas horrendas, problemas graves. Cacilda, sem rodeios, conversava rapidamente pra saber qual problema afligia a pessoa e, quando necessário, colocava a boca na ferida, sorvia a ‘doença’ e depois cuspia numa bacia próxima. Era assim que realizava as cirurgias espirituais”, diz Souza que viu a corrida por milagres de Cacilda a fim de fazer uma reportagem para a Revista Veja; a sucção oral era a marca própria das cirurgias espirituais que Mãe Cacilda realizava: onde fosse o problema, ela colocava sua boca sobre o local, fazia o processo de sucção, e cuspia algo retirado pela boca em uma vasilha de metal que ficava sempre próxima. As coisas retiradas do local doente variavam entre pregos, sangue, carnes mortas, pedras dos rins, bexiga e vesícula, formações de carnes esponjosas, quistos, placas de sangue pisado, e outros; o cuidado consigo mesma após os atendimentos se limitava a um algodão molhado com álcool que era passado em seus carnudos lábios. Alguns moradores da região vendiam coisas retiradas pela médiun durante o atendimento em vidrinhos para visitantes, mas, isso logo parou atendendo a ordem dada por Pai João. Os atendimentos eram gratuitos e Mãe Cacilda, mesmo conhecida como era, vivia com sua família uma vida pobre e humilde. Os familiares da médiun contam que Cacilda de fato possuía poderes sobrenaturais e passou toda a sua vida fazendo caridade a desconhecidos. Em certa ocasião Pai João se preparava para subir quando parou em frente do Terreiro um táxi que trazia uma mulher de 30 anos que segurava um pano junto aos seios escondendo um câncer que fazia com que a região parecesse podre e exalasse um forte mau cheiro. Pai João afirmou que logo ela ficaria curada e de fato foi: 45 dias após a moça retornava curada para agradecer, detalhe, sem cicatriz. A mídia televisiva tentou efetuar um encontro das duas Cacildas curadoras da década de 70, a do RJ e a de MT, mas o encontro foi acontecer longe das câmeras televisivas.
Pai João um dia falou “…tenho 321 anos, nasci em Caetés, Minas Gerais, trabalho com esse cavalo desde que ele tinha treze anos. Não deixo cobrar um tostão de ninguém. Nossa missão é ajudar quem precisa. Não quero nada de ninguém. Tenho outro aparelho aqui, mas ele está parado”. No dia 03 de agosto se comemorava o aniversário de Pai João de Minas e Mãe Cacilda organizava uma festa para ele; era o único dia em que ela não trabalhava atendendo os doentes. A maioria das pessoas atendidas saiam chorando da presença de Pai João, agradecendo a Deus; uma senhora com câncer no joelho teve o tendão seccionado em uma cirurgia: não podia mover o pé, mas depois de atendida por Pai João saiu mostrando movimentos.
Em 08 de agosto de 2000, aos 64 anos, mãe Cacilda desencarnou-se por decorrência de algum problema no coração, mas, Pai João de Minas já a havia anunciado pedindo que se preparasse para a inevitável viagem. Ainda hoje na sua Tenda, em Corumbá, se preserva seu assento e seu cajado, além de manuscritos e fotos de pessoas recuperadas através de sua ajuda, como títulos recebidos pela médiun cuiabana, inclusive, condecorações de embaixadas estrangeiras. Na entrada ainda se vê uma placa ali colocada pelo paraguaio Edison Insaurralde que teria entrado no terreiro de muletas por conta de problemas nas articulações, mas saiu andando normalmente.
A presença de Cacilda em Corumbá marcou de forma indelével a espiritualidade do estado, afinal, não é difícil perceber que Corumbá é a cidade da região centro oeste do Brasil com maior quantidade de templos de Umbanda; ainda hoje são mais de 500 registrados, segundo a prefeitura, sem contar os não registrados, chamados familiares, e isso tudo é uma consequência do passado, quando Mãe Cacilda popularizou a Umbanda ali praticada por ela. Hoje,70% da população da cidade é negra o que fez com que no censo de 2000 Corumbá ficasse a frente de Salvador em quantidade de moradores negros por conta de grande parte dos residentes locais autodeclararem-se afrodescendentes.
Esse mês, ao celebrarmos mais um ano de seu desencarne, deixamos aqui nossa homenagem a essa cuiabana que tanto fez pela Umbanda no Brasil.
Saravá.